Lalo Leal

Na Rede

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Lalo Leal

Pensamento único e destruição do futuro. O papel da mídia nessa coisa toda

Imprensa se associa ao governo Bolsonaro para mentir sobre a Previdência, a Venezuela ou a apologia à violência. E se torna protagonista do atraso civilizatório
por Lalo Leal, para RBApublicado 17/05/2019 16h09, última modificação 17/05/2019 16h47
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Mídia atua em peso para ajudar governo a convencer o povo que sem implodir direitos garantidos pela Previdência, o país irá à falência

Nem nos golpes contra Getúlio Vargas, em 1954, e Jango, em 1964, vimos a mídia tão unida como agora. E desta vez não é para depor um presidente, mas para arruinar um país. Trato da destruição da previdência social, assumida como projeto prioritário do atual governo e encampada sem restrições pelos meios de comunicação.

Chegam a ser constrangedores os raros momentos em que um convidado de um programa de TV foge da linha oficial da emissora. As expressões dos apresentadores beiram o pânico, a contenção imposta ao entrevistado é evidente e seu nome, com toda certeza, retirado da lista da produção. No entanto esses momentos são raros.

A regra é de que todos rezem pela mesma cartilha. O objetivo é inculcar na população a ideia de que sem implodir os direitos dos trabalhadores, garantidos pela atual Previdência, o país irá à falência. O sucesso dessa estratégia pode ser visto em depoimentos de pessoas, futuras vítimas dessa política, defendendo as pretensas “reformas”. Sou testemunha disso.

Se nos chamados programas de debates, que de debates não têm nada, ainda ocorrem descuidos dos produtores, no noticiário a linha oficial é rigorosamente cumprida. Discordâncias podem resultar em demissões. Seria ingênuo admitir a possibilidade de que esses funcionários das emissoras, sem dúvida escolarizados, não conheçam os inúmeros trabalhos existentes mostrando a falácia da tal reforma. Só que uma referência a eles pode representar o fim do emprego. E isso não ocorre só com a TV. Vale para o rádio e para os meios impressos.

Outro exemplo notável do pensamento único veiculado pela mídia brasileira é a cobertura a respeito da situação da Venezuela. Apesar das sucessivas eleições realizadas nos últimos anos, a mídia brasileira decidiu que lá vigora um regime ditatorial e o presidente da República, eleito democraticamente, é chamado de ditador. Inúmeras horas de transmissão de rádio e TV, páginas e mais páginas de jornais e revistas são usadas para desqualificar o governo e exaltar golpistas que surgem periodicamente, impulsionados por interesses externos.

Há casos extravagantes. Correspondentes baseados em Buenos Aires ou Nova York falam sobre acontecimentos ocorridos em Caracas. Revelam muito mais as suas opiniões e as de seus patrões sobre o que ocorre na Venezuela do que informam. Outro dia foi possível saber o que ocorre naquele país, não através desses correspondentes, mas de uma jornalista entrevistada pela FoxNews. Ela surpreendeu o apresentador revelando fatos até então escamoteados pela emissora estadounidense. Vozes como essa passam longe da mídia brasileira.

Apologia ao crime

Mas o pensamento único não se restringe a esses fatos evidentes. Há questões mais sutis como a da violência, tratada hoje como programa de governo. Na mídia ela aparece como algo intrínseco à sociedade brasileira, quase sempre desvinculada de suas causas estruturais, pobreza, abandono, desigualdade. Na televisão assume ares de espetáculo mórbido capaz de alavancar índices elevados de audiência. Explorada por apresentadores histriônicos incentivadores de mais violência. Não por acaso gestos simulando armas na última campanha eleitoral foram recebidos com naturalidade por parcela considerável da população.

A possibilidade aberta pelo governo ao permitir o porte legal de armas para quase 20 milhões de pessoas decorre desse longo processo de embrutecimento da sociedade através da mídia. Não se trata de um fenômeno recente. Nos primórdios da televisão, O Homem do Sapato Branco, interpretado por Jacinto Figueira Junior, já apelava para o grotesco no trato de supostos pequenos contraventores.

Nas últimas décadas esse tipo de programa espalhou-se pelo país alçando ao estrelato figuras como Ratinho ou Wagner Montes. Personagens semelhantes apareceram em inúmeras cidades brasileiras enraizando a ideia de que a violência necessita de valentões para combatê-la e, claro, de muitas armas.

Se dessa forma a apologia ao crime disfarçada de informação já era um incentivo à barbárie, com o aval do governo os limites da decência se ampliaram. A Rede Bandeirantes deixou de lado qualquer prurido de sensatez e colocou no ar um editorial apoiando o decreto que praticamente libera o porte de armas no país. Fez isso com dupla motivação: adular um governo do qual depende financeiramente para sobrevier e fortalecer o uso da violência para defender os seus próprios interesses, especialmente no campo.

Para reverter o embrutecimento existente na sociedade brasileira, gerado pelo secular processo de escravização de pessoas sequestradas na África, seria necessário um longo programa civilizatório de cunho político-cultural. Nesse sentido a Constituição de 1988 foi um alento. Apontava-se para uma sociedade mais justa e humanizada. Indicava-se um futuro um pouco mais promissor que passou a ser sistematicamente destruído a partir do golpe de 2016. Com o apoio aberto e incondicional da mídia unificada.

Outro futuro

A herança universitária elitista contra os ecos da universidade popular

Pelo menos em sua maioria, as universidades públicas brasileiras não possuem mais o caráter elitista de outrora. A parte favelada, pobre, preta, LGBT, indígena, quilombola e tudo mais que representa a diversidade brasileira quer uma universidade realmente inclusiva e plural
por Joaquim Alves da Silva Jr.*publicado 17/05/2019 14h59
CC Midia Ninja
15M cortes educação

Juventude, diversa e pensante, saiu às ruas para protestar contra redução de verbas para a educação pública e também para exigir novas formas de se pensar a formação universitária no país

“O conhecimento é para todos, você não entende isso porque é branco!” – Trecho do filme “O Abraço da Serpente”

Grande parte da população brasileira assiste consternada o processo de destruição dos fundamentos mínimos do Estado de Bem-Estar Social construídos no Brasil nos últimos trinta anos. Junta-se o toque fascistoide e entreguista implementados na base dos comandos dos bancos e do imperialismo capitalista.

Mas a intenção é falar da destruição do setor público da educação, em especial o ensino superior, partindo de uma experiência recente enquanto participante de parte das assembleias estudantis que ocorreram na cidade do Rio de Janeiro decorrentes do anúncio dos cortes das bolsas na pós-graduação e nos outros níveis de ensino.

Alguns dados divulgados na internet para contextualizar a atual configuração dos estudantes nas universidades públicas federais: dois entre três discentes provêm de famílias cuja renda não ultrapassa 1,5 salário mínimo per capita. Aproximadamente 50% [email protected] se autodeclaram [email protected] ou [email protected]. Como se não bastasse, as mulheres são a maioria nos cursos técnicos e de graduação.

Os dados são claros: pelo menos em sua maioria, as universidades públicas brasileiras não possuem mais o caráter elitista de outrora. Por tal motivo, a redução no orçamento das universidades não caracteriza somente uma chantagem inconstitucional de baixo nível, como também um projeto anunciado de eugenia aos modos tupiniquins. A intenção é clara: a dominação do ensino superior privado que obstruirá às pessoas com menor nível de renda o acesso ao ensino superior.

Como demonstram os dados do Atlas da Violência, a possibilidade de uma pessoa negra se manter viva no Brasil depende do nível educacional alcançado, evidenciando o cenário tenebroso por vir. Será certa a intensificação da morte de pessoas pretas e pobres, com anuência do Estado e da nossa sociedade rançosamente escravista.

Na verdade, até aqui não há novidades quanto ao histórico político da colônia tupiniquim. O Estado agiu ativamente na exclusão das porções negras da sociedade. Aliás, em quase todos os momentos de mudança institucional importante, o que ocorreu foi o reforço da cidadania de segunda classe para a população negra.

A República Velha é resultado de um golpe latifundiário-militar que relegou as populações negras outrora em condição de escravos às ruas sem qualquer tipo de apoio ou direitos. O Estado Novo de Vargas implantou o racismo institucional, fechou a primeira organização de representação preta brasileira, chegando inclusive a expulsar as poucas professoras negras atuantes no magistério.

A militarização das favelas decorrente da ditadura empresarial-militar segue de vento em popa. Aliás, o próprio surgimento da ciência no Brasil tem uma dimensão fortemente eugenista (Leia O Espetáculo das Raças – Cientistas, instituições e questão racial no Brasil do século XIX. São Paulo, Companhia das Letras, 1993).

Em muito lembra os exemplos recentes do atual governo: entre idas e vindas, a Capes anuncia a volta das bolsas, mas somente para os programas classificados com notas altas, remetendo à histórica forma elitista de apoio às universidades mais prestigiadas e localizadas fundamentalmente nas regiões sul e sudeste do país.

Há um extenso material abordando o cenário catastrófico dos cortes do orçamento do ensino superior em relação às populações mais pobres, bem como o contra-argumento relativo ao impacto positivo da expansão das universidades pelo país.

Se até recentemente as favelas e os contingentes populacionais pobres eram tidos como “objeto” de pesquisa, atualmente boa parte deste mesmo “objeto” está presente nas universidades, ocupando as carteiras e lousas a partir dos seus lugares de fala, em grande medida graças aos programas de cotas raciais e de permanência estudantil.

Pessoas pretas, do meio rural e de comunidades tradicionais, que muitas vezes ainda são as primeiras da família a vivenciar o ambiente universitário, veem os estudos como uma oportunidade de vida, e não como mais um degrau a ser conquistado tendo carros e viagens para a Europa como prêmio. Além disso, adquire-se pensamento crítico da sua realidade e o impulso por transformá-la, tal como preconizado pelo mestre Paulo Freire.

Agora a lógica é diferente, pois não bastam apenas o retorno dos direitos. A parte favelada, pobre, preta, LGBT, indígena, quilombola e tudo mais que representa a diversidade quer uma universidade realmente inclusiva, plural, permeável à sociedade.

A reivindicação passa nesse momento não somente por mais investimento no ensino público de qualidade e gratuito, mas também pela transformação do modo de produzir conhecimento, tendo como critério-fim o intenso intercâmbio social. São claros e cristalinos o ecos para a emergência de uma Universidade Popular!

Neste sentido, há um lado bom do atual momento pelo qual devemos agradecer ao Sr. Bolsonaro. Ele conseguiu motivar, talvez pela primeira vez na história, a união da comunidade acadêmica pela defesa da universidade pública, num frutífero momento de reflexão entre o velho e o novo modo de fazer política estudantil.

É também chegada a hora de as entidades estudantis, associações docentes e de servidores públicos pararem de reproduzir o jogo de poder enfadonho e fragmentador para vislumbrar a facilitação do processo pragmaticamente político de mobilização pela defesa do ensino público.

Tal momento não é privilégio do Brasil. Os ataques às universidades estão ocorrendo em várias partes do planeta, nas mais diversas áreas, refletindo na ruptura de pesquisas em andamento, bem como a perseguição e a fuga de intelectuais.

Este momento decorre da expansão das notícias falsas como estratégias para deslegitimar o conhecimento crítico, manipular processos eleitorais e desestabilizar governos. Lutar pelo acesso e poder de construção do conhecimento tomou proporções globais.

Carl Sagan, um dos mais importantes intelectuais e divulgadores científicos da história, defendia que só temos duas opções: ou nos transformamos numa sociedade do conhecimento, ou seremos qualquer outra coisa (Leia: Carl Sagan – O mundo assombrado pelos demônios. São Paulo, Companhia das Letras, 2006).

A “qualquer outra coisa” está aí nos governando, tomando decisões baseadas na alienação social.

Se não demonstrarmos a importância da produção do conhecimento para a sociedade, a ciência continuará a não fazer sentido e, por isso, será dispensável. Restará a ideia da “terra plana”, mesmo que tal impropério seja divulgado de forma esquizofrênica em meios tecnológicos advindos da pesquisa científica.

É hora de sair para as ruas e enfrentar a repressão anunciada para sensibilizar a população em relação ao cenário obscuro que a falta de investimento no ensino público pode gerar. É um momento da história sem volta.

* Doutorando em Ciências Sociais pelo CPDA/UFRRJ

gratidão

Tsunami da educação só prova que Lula e Dilma fizeram um ótimo trabalho

Protagonismo dos estudantes e professores na resistência ao bolsonarismo é um sintoma de que a educação brasileira resiste
por Nathali Macedo, no DCMpublicado 16/05/2019 14h49
Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Lula e Dilma

Nos governos Lula e Dilma que o pobre finalmente teve acesso à universidade, com programas como ProUni e Fies

DCM – 15 de maio de 2019 já entrou para a história como o dia em que milhares de pessoas em mais de duzentas cidades brasileiras foram às ruas em defesa da educação pública, em um movimento encabeçado pelos estudantes e professores – sempre eles – que dão Brasil um respiro de esperança em um governo de sucessivas tragédias.

O protagonismo dos estudantes e professores na resistência ao bolsonarismo anti-ciência é, aliás, um sintoma de que a educação brasileira resiste. É a prova cabal de que, apesar de Bolsonaros, Moros e Olavos, nós ainda estamos aqui.

O Brasil construído por Lula e Dilma não ruiu – ele foi apenas temporariamente vencido. Ainda que, por ora, impere a barbárie, o Brasil da educação está mais do que vivo.

Em todos os anos de governo do PT, em termos reais, houve aumento exponencial nos investimentos em educação. Entre 2008 e 2013, por exemplo, os investimentos quase dobraram: de 66,7 bilhões para 126,7 bilhões.

Foi também nos governos Lula e Dilma que o pobre finalmente teve acesso à Universidade, com programas como ProUni e Fies. Quer queiram os antipetistas, quer não, os governos Lula e Dilma revolucionaram a educação no Brasil. E o resultado está aí.

Não é espantoso que as ruas do Brasil tenham sido tomadas em defesa do conhecimento e da ciência, mesmo em um governo caótico. É isso que acontece quando um país forma cidadãos que pensam. O tsunami da educação só prova que Lula e Dilma fizeram um ótimo trabalho.

Quem são, afinal, as pessoas que hoje se levantam pela educação?

São aquelas pessoas que, no passado, ascenderam através da educação. São as pessoas que tiveram a oportunidade antes inimaginável de pisarem em uma universidade pública. São os professores que, algum dia, já experimentaram a sensação de terem sua profissão valorizada.

Quem luta pela educação, hoje, é quem sabe que o Brasil é melhor do que isso. Não somos o Brasil da ignorância e das Fake News: somos o Brasil dos professores que vão às ruas, das Universidades públicas que são responsáveis por 90% da pesquisa científica do país – muita balbúrdia! -, dos mais de treze milhões tirados do analfabetismo nos governos Lula e Dilma.

Nunca é demais lembrar que, não fossem os idiotas úteis da FIESP, teríamos hoje um presidente que tinha como lema um livro numa mão e a carteira de trabalho na outra.

Em outubro de 2018 a ignorância venceu, mas isso não precisa ser uma sentença. Nós ainda podemos retomar o Brasil que queremos. A semente plantada em treze anos de governos que priorizavam a educação continuará germinando e dando frutos nas próximas décadas.

Vazamento de dados

Falhas de segurança no WhatsApp: quem está por trás disso?

Empresa confirma falha de segurança e recomenda que seu 1,5 bilhão de usuários atualize o aplicativo em seus dispositivos
por Pedro Barcielapublicado 14/05/2019 18h59
Pixabay
Hacker


Você provavelmente foi impactado por notícias de que uma vulnerabilidade no WhatsApp permitiu que “hackers” acessassem seu telefone e, consequentemente, seus dados. No entanto você não foi informado que esse serviço não é fruto do trabalho de algum lobo solitário na garagem de casa ou algo do tipo. Talvez a questão não seja tão simples.

A história tem um “início oficial” em 2011, quando a empresa NSO desenvolveu seu primeiro protótipo, uma ferramenta de vigilância móvel chamada Pegasus. A ferramenta da NSO poderia fazer algo aparentemente impossível: coletar grande quantidade de dados – até então inacessíveis  de smartphones sem deixar rastros e claro, sem permissão. Isso incluía telefonemas, textos, e-mails, contatos, localização e quaisquer dados transmitidos sobre aplicativos como Facebook, WhatsApp e Skype.

A partir daí, a empresa que se identifica como “a Q Cyber Technologies company, we develop technology that enables government intelligence and law enforcement agencies to prevent and investigate terrorism and crime” passou a vender seus serviços para governos em todo o mundo. Segundo líderes da NSO, a empresa “tem clientes em todos os continentes, exceto na Antártida”.

“Quando essas empresas invadem seu telefone, elas são as proprietárias. Você está apenas carregando isso”, disse Avi Rosen, da Kaymera Technologies, uma empresa israelense de defesa digital, sobre a NSO e seus concorrentes. 

A empresa logo teve seu primeiro cliente para a Pegasus: o governo do México, que estava envolvido em uma ofensiva aos cartéis de drogas. (…) Um porta-voz do Ministério da Defesa de Israel, que precisa autorizar qualquer contrato que o NSO ganhe de um governo estrangeiro, se recusou a responder a perguntas sobre a empresa.

Os produtos da NSO  particularmente a Pegasus  ajudaram a desmembrar células terroristas e ajudaram nas investigações sobre o crime organizado e o sequestro de crianças, informaram as autoridades de inteligência e policiais europeias em entrevistas.

Voltando ao primeiro cliente da empresa, um dos casos mais emblemáticos, a NSO teve papel central na guerra do México contra os cartéis, de acordo com pessoas envolvidas com o governo mexicano. As autoridades mexicanas atribuem a Pegasus atuação fundamental para ajudar a localizar e capturar El Chapo, o famoso traficante que foi condenado à prisão perpétua em segurança máxima.

No entanto, o governo mexicano também estava usando os serviços para fins mais sombrios  como parte de um esforço mais amplo de vigilância do governo, que utilizou os serviços da NSO para rastrear pelo menos 24 jornalistas, críticos do governo e investigadores internacionais que investigavam o desaparecimento de 43 estudantes, por exemplo.

Portanto, ao ser atingido por notícias como “falhas de segurança” ou “hackers” entenda que o processo está a milhas distante de um trabalho amador, caseiro ou de indivíduos solitários. A falha de segurança no WhatsApp permitiu – e permite – que empresas monitorem e influenciem inúmeros processos em todo o mundo, sejam eles ligados a atividades ilícitas, como se propõe na teoria a agência israelense, ou atividades consideradas perigosas por àqueles que contratam os serviços.

Por isso, desconfiemos também da aproximação – muitas vezes injustificável  de Bolsonaro com o governo israelense. Some a isso a necessidade de que todas as atividades da empresa, em governos estrangeiros, precisam ter a anuência do governo israelense. Acrescente ainda que, segundo a BBC, a visita de Bolsonaro ao país incluía a expectativa de “firmar novas parcerias em segurança, nas áreas de tecnologia, cibersegurança e defesa”. Ou, caso ache melhor, apenas ignore e reconsidere a ideia de que as falhas de segurança do WhatsApp são exploradas por algum lobo solitário em um porão da Macedônia.

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Referências
A New Age of Warfare: How Internet Mercenaries Do Battle for Authoritarian Governments
Inside the UAE’s secret hacking team of american mercernaries – Ex-NSA operatives reveal how they helped spy on targets for the Arab monarchy — dissidents, rival leaders and journalists 
Rick Gates Sought Online Manipulation Plans From Israeli Intelligence Firm for Trump Campaign
Supporters of Mexico’s Soda Tax Targeted With NSO Exploit Links
WhatsApp voice calls used to inject Israeli spyware on phones 

Autocracia dos novos ricos

Sonegação, isenção, subsídios, juros altos movem nova classe parasita do Estado

Negócios conduzidos por especulação financeira, agronegócio, comércio varejista, religiões, crime organizado, milícias, serviços privados e alta burocracia corroem economia produtiva e se apoderam do Estado
por Marcio Pochmann, para RBApublicado 13/05/2019 08h08, última modificação 13/05/2019 09h10
Carrapato

Nos últimos três anos, o Brasil parece confirmar o retorno ao regime da autocracia dos ricos, materializado, cada vez mais, pelo exercício do governo por si próprio, conforme definição grega. A personificação dos ricos no poder não seria inédita no país, uma vez que durante a longa e tortuosa transição do autoritarismo (1964-85) para a democracia, Florestan Fernandes chamou a atenção para o recurso da composição pelo alto a reproduzir histórica reordenação das forças dominantes no interior do mesmo bloco de poder.

Nesse sentido, a recente ascensão do governo Bolsonaro, após a emergência do golpe liderado por Temer, expressaria a remodelação do padrão de reprodução dos ricos e a recomposição das forças dominantes instaladas no bloco de poder dirigente durante o ciclo político da Nova República (1985-2015). De maneira geral, o precoce processo de desindustrialização nas últimas três décadas foi acompanhado pelo inchamento dos negócios no setor de serviços, amparado por baixa produtividade e dependência do orçamento público.

Trajetória inversa à verificada na passagem do velho agrarismo para o ciclo da industrialização nacional durante as décadas de 1930 e 1980, quando enormes parcelas de trabalhadores rurais se deslocaram para as atividades urbanas de manufaturas e serviços de produção com elevada produtividade. Assim, as antigas atividades de subsistência no campo foram sendo substituídas por ocupações novas e modernas nos setores industriais e de serviços.

Ao mesmo tempo, o padrão de reprodução dos ricos associava-se ao investimento privado e que mesmo em parceria com o setor público dependeria da expansão dos mercados de consumo. Com isso, a constituição de burguesia dirigente com certo discernimento acerca da importância do projeto de longo prazo do desenvolvimento da nação.

Mas com o abandono do ciclo de industrialização nacional, os ganhos de produtividade seguiram praticamente estancados diante da perda dos empregos industriais sem a compensação da trajetória de terciarização da economia nacional. Isso porque as atividades que mais cresceram foram as vinculadas mais ao inchamento dos serviços tradicionais do que as tecnologicamente mais avançadas.

Destroem-se, por exemplo, empregos de remuneração em torno de 70 mil reais anuais na manufatura ao mesmo tempo em que expandem ocupações de menos de 15 mil reais por ano em atividades do comércio e serviços em restaurante, asseio e segurança.

Com isso, o padrão de reprodução dos ricos até então vinculado ao desenvolvimento da manufatura e serviços de maior produtividade foi sendo corroído pelo enriquecimento do patronato associados às atividades mais tradicionais, cuja produtividade comprimida os torna crescentemente dependentes do próprio orçamento governamental.

Esse parece ser o caso dos negócios conduzidos no mercado financeiro, agronegócio, comércio varejista, religiões, crime organizado, milícias, serviços privados (saúde, educação, previdência) e alta burocracia e carreiras do Estado.

Em meio à desindustrialização e estagnação da produtividade, a antiga burguesia industrial enfraqueceu e assistiu, por consequência, à emergência dos novos enriquecidos, herdeiros do inchamento dos serviços de baixa produtividade a se reposicionar no interior do bloco de poder dominante em direção à reprodução dos seus próprios interesses imediatos.

Por dependerem do orçamento público em termos da sonegação, desoneração, isenção, subsídios fiscais e creditícios, do perdão de dívidas públicas, da prevalência de elevadas taxas de juros, entre outras, constituem base no executivo e parlamento capaz de patrocinar a reorientação do Estado a seu favor.

A interrupção das políticas inclusivas e o desembarque dos pobres e agora também da classe média do orçamento público torna mais confortável o exercício da autocracia dos ricos numa economia sem dinamismo e dominada por inchado setor de serviços de contida produtividade.

A asfixia dos recursos públicos se apresenta seletiva e orientada ao atendimento dos novos enriquecidos, com o desmanche das políticas inclusivas e a privatização que amplie fontes de riqueza a ser explorada nas atividades até então exercidas pelo Estado.   

Com isso, a autocracia dos novos ricos se beneficia amplamente. De um lado, pelo corte de recursos públicos não financeiros que trata de acomodar a dependência à sonegação e perdão de dívidas, à desoneração, isenção, subsídios fiscais e creditícios e ao rentismo sustentado por altas taxas de juros.

De outro, pela transformação das funções de estatais e dos serviços públicos em negócios a serem explorados privadamente pelos herdeiros do inchamento do setor de serviços diante da ausência de investimentos que sustentem a expansão produtiva nacional.

Em função disso, o governo Bolsonaro constitui apenas parte, ainda que importante, dos atuais problemas nacionais. O maior entreve identificado pela volta do regime autocrata assenta-se, contudo, no reposicionamento dos novos enriquecidos pelo inchamento do setor de serviços no interior do bloco de poder.

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Análise

Xadrez do golpe de Bolsonaro a caminho, por Luis Nassif

O país corre o mais sério risco da sua história, de ser efetivamente controlado por organizações criminosas.
por Luis Nassif, no Jornal GGNpublicado 09/05/2019 08h05
via jornal ggn
jornal ggn

Do Jornal GGN

Peça 1 – O fator Olavo de Carvalho

Depois das últimas escaramuças, não resta dúvida de que a alma do governo Jair Bolsonaro são seus filhos Carlos e Eduardo. E, por trás de ambos, Olavo de Carvalho. Conforme foi possível conferir ao longo desses meses iniciais, todas as loucuras ditas por Olavo e pelos filhos de Bolsonaro têm consequências políticas. Não são meramente bazófias e grosserias. Têm que ser interpretadas ao pé da letra.

Três opiniões relevantes para compor essa primeira peça

A opinião de Olavo sobre os militares

É evidente que, para Olavo, os generais representam o maior empecilho para a guerra final contra o marxismo cultural.

A opinião de Eduardo Bolsonaro sobre o armamento para a população

Em mais de um Twitter, Carlos e Eduardo Bolsonaro deixaram claro que armar a população é condição essencial para a libertação do país. Deram como exemplo os EUA dos pioneiros e a Venezuela da Maduro. Se a população tivesse armas, Maduro não imporia sua ditadura.

A hora do enfrentamento, segundo Olavo

De todos os tuites de Olavo, o que mais chamou a atenção foi o que ele avisa para deixar para mais tarde a briga com o general Villas-Boas. Quem o avisou foi “o anjo da guarda”. Não é necessário muito tirocínio para intuir quem é o tal de anjo da guarda.

É evidente que o sentido da frase embute a questão da correlação de forças. Mas o que impediria, neste momento, se o próprio Bolsonaro deixou claro que, entre militares e Olavo, fica com Olavo? Certamente não é a correlação de forças políticas dentro do governo Bolsonaro, onde Olavo saiu vitorioso. É a correlação entre o bolsonarismo e as forças externas – incluindo aí, os generais.

Peça 2 – o decreto de Bolsonaro

Portanto, é ingenuidade supor que o decreto de Bolsonaro, ampliando desmedidamente o direito às armas seja mero lobby dos clubes de tiro ou da indústria de armas dos Estados Unidos.

É um posicionamento político para impor-se amparado pelo poder das milícias, dos ruralistas, pelas armas nas mãos de seus seguidores, pelos aliados nas empresas de segurança e, provavelmente, por sua influência junto à média oficialidade das Forças Armadas.

As ligações de Bolsonaro e do PSL com as milícias são óbvias. E há evidências de monta sobre sua proximidade com os mercadores de armas. Dono de um arsenal de 120 armas pesadas, o ex-PM Ronnie Lessa era vizinho de condomínio de Bolsonaro. Ligado a tantos milicianos, colega de tantos ex-militares que vieram dos porões, é impossível que Bolsonaro não soubesse das atividades de Ronnie Lessa

Aqui o primeiro mapa feito mostrando essas ligações.

Peça 3 – as ligações com a indústria de armas dos EUA

No artigo “Xadrez da indústria de armas e o financiamento da direita” mostrei as estreitas ligações entre o lobby das armas e o avanço da ultradireita no mundo. Mostra também a associação dos Bolsonaro com a NRA, a associação dos fabricantes de rifles dos EUA.

Dizia a matéria;

No dia 10 de novembro de 2018, o site da America´s 1st Freedom, da NRA, dizia (https://goo.gl/F7mkKV):  “Tiremos o chapéu para Bolsonaro por ver a situação pelo que realmente é”.

Um ano antes, em 2017, Jair e Eduardo Bolsonaro foram recebido com todas as regalias pela NRA, conforme reportagem da Bloomberg (https://goo.gl/KWcMhy):

“Enquanto estavam lá, eles experimentaram uma AK-47 e outras armas de assalto. Depois, Eduardo, vestindo uma camiseta “F — ISIS”, segurou cartuchos de grande calibre para a câmera e expressou consternação por eles poderem “ter um problema” se tentassem trazer a munição para o Brasil.”

Quando entrou em crise, depois de ter defendido o armamento para a população dias antes da chacina e ela passou a ser alvo generalizado de críticas, inclusive do prefeto de Nova York, a saída foi invocar Deus:

A reação da NRA veio através de seu líder, Wayne LaPierre, alertando contra uma “agenda socialista” por trás das campanhas contra o desarmamento. E dizendo que o direito às armas “é garantido por Deus a todos os americanos como direito de nascença” (https://goo.gl/QKwpaa).

A atuação política da NRA é fundamentalmente contra as instituições, das quais a mais visada é a imprensa.

Peça 4 – o fator Wilson Witzel

O governador carioca Wilson Witzel está claramente preparando sua polícia – civil e militar – para a guerra. Pode-se supor que seja contra as organizações criminosas adversárias das milícias. O que aconteceria com essa estrutura armada, caso o bolsonarismo decidisse peitar a hierarquia das Forças Armadas?

É mais uma evidência do posicionamento dos bolsonaristas.

Peça 5 – o caos que se avizinha

Não há a menor possibilidade da economia melhorar. A equipe econômica conduzida pelos inenarráveis Paulo Guedes e Mansueto de Almeida, parecem determinados a inviabilizar o país, a pretexto de cumprir a Lei do Teto. E sempre com a promessa impossível de que tudo irá melhorar, em um passe de mágica, se for aprovada a reforma da Previdência.

Todas as medidas tomadas parecem ter o intuito de promover a reação da população. Pode ser mera miopia política, de economistas desvairados, pode ser a busca do álibi para o confronto final contra o tal do “marxismo”, que os bolsonaristas vêem até nas Forças Armadas.

De qualquer modo, a cada dia que passa o desalento será maior, assim como a corrosão na popularidade de Bolsonaro. Isso explica a pressa em acelerar providências, a pretexto de recuperar o contato com a base.

O país corre o mais sério risco da sua história, de ser efetivamente controlado por organizações criminosas. Seria relevante que caísse a ficha das instituições – STF (Supremo Tribunal Federal), Forças Armadas e Congresso, antes que seja tarde.

Análise

Jessé Souza: O que significa Bolsonaro no poder

Um idiota de verdade no comando da nação é um preço muito alto até para uma elite e uma classe média sem compromisso com a população nem com a sociedade como um todo
por Jessé Souza, em seu blogpublicado 09/05/2019 07h49
Via O Brasil no Espelho
Artigo de Jessé Souza

O Brasil no Espelho – A eleição de Jair Bolsonaro foi um protesto da população brasileira. Um protesto financiado e produzido pela elite colonizada e sua imprensa venal, mas, ainda assim, um “protesto”. Uma sociedade empobrecida – cheia de desempregados, de miseráveis e violência endêmica, cujas causas, segundo a elite e a grande imprensa que a mantém, é apenas a “corrupção política” – elege o mais nefasto político que os 500 anos de história brasileira já produziu. Segundo a imprensa comprada, a corrupção é, inclusive, culpa do PT e de Lula manipulando a informação e criando uma guerra entre os pobres. Sem compreender o que acontece, a sociedade como um todo é manipulada e passa a agir contra seus melhores interesses.

A única classe social que entra no jogo sabendo o que quer é a elite de proprietários. Para a elite, o que conta é a captura do orçamento público via “dívida pública” e juros extorsivos, e ter o Estado como seu “banco particular” para encher o próprio bolso. A reforma da previdência é apenas a última máscara desta compulsão à repetição. Mas as outras classes sociais, manipuladas pela elite e sua imprensa, também participaram do esquema, sempre “contra” seus melhores interesses.

A classe média real entrou em peso no jogo, como sempre, contra os pobres para mantê-los servis, humilhados e sem chances de concorrer aos privilégios educacionais de que desfruta. Os pobres entraram no jogo parcialmente, o que se revelou decisivo do ponto de vista eleitoral, pela manipulação de sua fragilidade e pela sua divisão proposital entre pobres decentes e pobres “delinquentes”. Esses dois fatores juntos, a guerra social contra os pobres e entre os pobres, elegeram Bolsonaro e sua claque.

A captura do Estado pelos proprietários, obviamente, é a verdadeira corrupção que, inclusive, a “esquerda” até hoje, ainda sem contradiscurso e sem narrativa própria, parece não ter compreendido

Foi um protesto contra o progresso material e moral da sociedade brasileira desde 1988 e que foi aprofundado a partir de 2002. Estava em curso um processo de aprendizado coletivo raro na história da sociedade brasileira. Como ninguém em sã consciência pode ser contra o progresso material e moral de todos, o pretexto construído, para produzir o atraso e mascará-lo como avanço, foi o pretexto, já velho de cem anos, da suposta luta contra a corrupção. Sérgio Moro incorporou esta farsa canalha como ninguém.

A “corrupção política”, como tenho defendido em todas as oportunidades, é a única legitimação da elite brasileira para manipular a sociedade e tornar o Estado seu banco particular. A captura do Estado pelos proprietários, obviamente, é a verdadeira corrupção que, inclusive, a “esquerda” até hoje, ainda sem contradiscurso e sem narrativa própria, parece não ter compreendido.

Agora, eleição ganha e Bolsonaro no poder, começam as brigas intestinas entre interesses muito contraditórios que haviam se unido conjunturalmente na guerra contra os pobres e seus representantes. Bolsonaro é um representante típico da baixa classe média raivosa, cuja face militarizada é a milícia, que teme a proletarização e, portanto, constrói distinções morais contra os pobres tornados “delinquentes” (supostos bandidos, prostitutas, homossexuais, etc.) e seus representantes, os “comunistas”, para legitimar seu ódio e fabricar uma distância segura em relação a eles.

Toda a sexualidade reprimida e todo o ressentimento de classe sem expressão racional cabem nesse vaso. O seu anticomunismo radical e seu anti-intelectualismo significam a sua ambivalente identificação com o opressor, um mecanismo de defesa e uma fantasia que o livra de ser assimilado à classe dos oprimidos. Olavo de Carvalho é o profeta que deu um sentido e uma orientação a essa turma de desvalidos de espírito.

É claro que Bolsonaro é um mero fantoche ocasional das elites brasileira e americana. Quando ele volta de mãos vazias dos Estados Unidos, depois de dar sem qualquer contrapartida o que os americanos nem sequer tinham pedido, a única explicação é que ele estava lá como sujeito privado e não como presidente de um país. Como sujeito privado, é bem possível que ele estivesse pagando, com dinheiro e recursos públicos, os gastos de campanha até hoje secretos e sem explicação. Mas é óbvio que sua campanha foi feita e muito provavelmente financiada pelos mesmos que fizeram e bancaram a campanha de Trump.

O seu discurso de ódio era o único remédio contra a volta do PT ao poder. E como a elite e sua imprensa querem o saque do povo, e para isso se aliam até ao diabo, ou pior, até a Bolsonaro, sua escolha teve este sentido. O ódio, por sua vez, é produzido pela revolta de quem não entende por que fica mais pobre e a única explicação oferecida pela imprensa venal é o eterno “bode expiatório” da corrupção política. Mas a corrupção política era a forma, até então, como se manipulava a falsa moralidade da classe média real. Como se chega com esse discurso manipulador também nas classes baixas? O voto da elite e da classe média no Brasil não ganha eleição nenhuma. Este é um país de pobres.

A questão interessante passa a ser como e por que setores das classes populares passaram a seguir Bolsonaro e permitiram sua eleição. Para quem Bolsonaro fala quando diz suas maluquices e suas agressões grosseiras? Ele fala, antes de tudo, para a baixa classe média iletrada dos setores mais conservadores do público evangélico. Este público que ganha entre dois e cinco salários mínimos é um pobre remediado que odeia o mais pobre e idealiza o rico. O anticomunismo, por exemplo, tem o efeito de irmanar este pobre remediado com o rico, já que é uma oportunidade de se solidarizar com o inimigo de classe que o explora e não com seu vizinho mais pobre com quem não quer ter nada em comum. Isso o faz pensar que ele, em alguma medida, também é rico – ou em vias de ser –, já que pensa como ele.

O anti-intelectualismo também está em casa na baixa classe média. Isso é importante quando queremos saber a quem Bolsonaro fala quando ataca, por exemplo, as universidades e o conhecimento. A relação da baixa classe média com o conhecimento é ambivalente: ela inveja e odeia o conhecimento que não possui, daí o ódio aos intelectuais, à universidade, à sociologia ou à filosofia. Este é o público verdadeiramente cativo de Bolsonaro e sua pregação. É onde ele está em casa, é de onde ele também vem. Obviamente esta classe é indefesa contra a mentira institucionalizada da elite e de sua imprensa. Ela é vítima tanto do ódio de classe contra ela própria, que cria uma raiva que não se compreende de onde vem, e da manipulação de seu medo de se proletarizar. Quando essas duas coisas se juntam, o pobre remediado passa a ser mais pró-rico que o Dória.

A escolha de Sérgio Moro foi uma ponte para cima com a classe média tradicional que também odeia os pobres, inveja os ricos e se imagina moralmente perfeita porque se escandaliza com a corrupção seletiva dos tolos. Mas, apesar de socialmente conservadora, ela não se identifica com a moralidade rígida nos costumes dos bolsonaristas de raiz, que estão mais perto dos pobres. Paulo Guedes, por sua vez, é o lacaio dos ricos que fica com o quinhão destinado a todos aqueles que sujam as mãos de sangue para aumentar a riqueza dos já poderosos.

Os primeiros meses de Bolsonaro mostram que a convivência desses aliados de ocasião não é fácil. A elite não quer o barulho e a baixaria de Bolsonaro e sua claque, que só prejudicam os negócios. Também a classe média tradicional se envergonha crescentemente do “capitão pateta”. Ao mesmo tempo, sem barulho nem baixaria Bolsonaro não existe. Bolsonaro “é” a baixaria. Sérgio Moro, tão tolo, superficial e narcísico como a classe que representa, é queimado em fogo brando, já que o Estado policial que almeja, para matar pobres e controlar seletivamente a política, em favor dos interesses corporativos do aparelho jurídico-policial do Estado, não interessa de verdade nem à elite nem a seus políticos. Sem a mídia a blindá-lo, Sérgio Moro é um fantoche patético em busca de uma voz.

O resumo da ópera mostra a dificuldade de se dominar uma sociedade marginalizando, ainda que em graus variáveis, cerca de 80% dela. Bolsonaro e sua penetração na banda podre das classes populares foi útil para vencer o PT, mas é tão grotesco, asqueroso e primitivo que governar com ele é literalmente impossível. A idiotice dele e de sua claque no governo é literal no sentido da patologia que o termo define. Eles vivem em um mundo à parte, comandado pelo anti-intelectualismo militante, o qual não envolve apenas uma percepção distorcida do mundo. O idiota é também levado a agir segundo pulsões e afetos que não respeitam o controle da realidade externa. Um idiota de verdade no comando da nação é um preço muito alto até para uma elite e uma classe média sem compromisso com a população nem com a sociedade como um todo.  Esse é o dilema do idiota Jair Bolsonaro no poder.

Marcio Pochmann

O governo ameaça um dos principais sistemas de ensino superior do mundo

Nas últimas posições em investimento em ensino superior – atrás de Indonésia, Argentina, Colômbia e México – o Brasil vinha reagindo ao atraso. Governo quer destruir os avanços e o sentido inclusivo da universidade
por Por Marcio Pochmannpublicado 06/05/2019 07h46, última modificação 06/05/2019 07h58
Pixabay
educação

O Brasil possui um dos principais sistemas de formação no ensino superior do mundo. Embora o país represente 2,8% da população mundial, a sua participação relativa no total de estudantes universitários no planeta saltou de 2,7%, em 2000, para 4,4%, em 2014, segundo a Unesco.

O sistema universitário nacional compreende o funcionamento de 2.448 Instituições de Ensino Superior que anualmente absorvem cerca de 3,2 milhões de novos ingressantes e formam ao redor de 1,1 milhão de profissionais oriundos de 35,4 mil cursos de graduação (MEC-Inep). Além de grandioso e complexo, o sistema universitário detém uma das principais plataformas de ensino e pesquisa na pós-graduação mundial que forma anualmente mais de 50 mil mestres e quase 17 mil doutores.

As universidades brasileiras, especialmente as públicas, que respondem por 95% da pesquisa do país e 24,7% do total dos alunos matriculados, também respondem pelas atividades de extensão. Somente no ano passado, por exemplo, as universidades públicas federais realizaram 17,4 milhões de exames e 6,8 milhões de consultas médicas acompanhadas por 339 mil internações de pacientes e a realização de 232 mil cirurgias e 1.398 transplantes em todo o país.   

Apesar disso, o país ainda está longe de atingir o potencial que o ensino superior alcança em outras nações. Em relação ao conjunto de 26 países selecionados pela OCDE, Brasil encontra-se na retaguarda em termos do acesso a diplomas universitários na população de 25 a 64 anos de idade.

Enquanto cerca de 18% dos brasileiros registram deter graduação no segmento etário de 25 a 64 anos, a média no conjunto dos 36 países chega a 28% de idêntica faixa populacional. Na Rússia, por exemplo, 54% das pessoas de 25 a 64 anos possuem título universitário e no Chile chega a 24% para o mesmo segmento etário.

O Brasil poderia avançar ainda mais também em relação à pós-graduação. Apesar de deter atualmente mais de 230 mil doutores e 650 mil mestres diplomados, o país possui menos de oito doutores por 100 mil brasileiros. O Reino Unido registra 41 doutores por 100 mil habitantes, os Estados Unidos, 20 por 100, o Japão, 13 por 100 mil.

O caminho para avançar parece viável, pois o país compromete quantia ainda relativamente baixa na formação dos universitários. Segundo levantamento da OCDE realizado com 39 países, o Brasil encontra-se nas últimas posições em termos de investimentos por aluno no ensino superior, abaixo do comprometido com estudantes universitários na Indonésia, Argentina, Colômbia e México. Em 2015, por exemplo, o dispêndio médio com matriculados no ensino superior brasileiro era equivalente a menos de 13% do realizado nos Estados Unidos, a 15% no Reino Unido, a 44% no Chile e a 58% na Colômbia.

Ademais do salto quantitativo transcorrido no ensino universitário nos anos 2000, bem mais significativo do que registrado no mundo, constata-se o movimento da descentralização territorial das oportunidades e da democratização do acesso por nível de renda e raça. Com isso, o avanço na graduação e pós-graduação permitiu reduzir desigualdades que historicamente marcam a educação brasileira a partir da expansão das universidades relativamente mais para as regiões distantes do centro nacional e para o interior do país.

A descentralização da educação no território nacional foi significativa nos últimos anos, permitindo diminuir, por exemplo, a concentração de mestres e doutores formados no centro mais rico do país. No ano de 2014, por exemplo, os estados de São Paulo e Rio de Janeiro respondiam juntos por 36,6% dos mestres e 49,5% dos doutores formados no país, ao passo que em 1996 detinham 58,8% da formação de mestres e 83,4% de doutores da nação.

Também no que diz respeito ao acesso às universidades constata-se intensa ascensão de estudantes pertencentes à base da pirâmide social brasileira, cuja presença relativa dos universitários com renda mensal de até 2 salários mínimos saltou de 27,1%, em 2001, para 67,5%, em 2015. No mesmo sentido, nota-se que a participação dos estudantes não brancos no total das matriculas no ensino superior passou de 23,3%, em 2001, para 44,4%, em 2015, enquanto a participação conjunta das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste no total dos estudantes universitários brasileiros saltou de 31,8%, em 2001, para 41,3%, em 2015.

Essa trajetória tem sido frontalmente atacada desde a chegada do governo Temer e, agora, de Bolsonaro. O desmanche das políticas educacionais, especialmente nas universidades públicas, decorre tanto da desqualificação dos dirigentes governamentais como do propósito de inviabilizar o ensino superior através da imposição da asfixia orçamentária.

De uma tacada só, o MEC anunciou o corte de 47% dos recursos destinados ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), enquanto as reduções orçamentárias impostas às universidades públicas tendem a comprometer, inclusive, o cumprimento do ano letivo. Perde-se assim, o sentido inclusivo das universidades, bem como se desestrutura um dos principais sistemas de ensino superior do mundo.

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autoritarismo

Ataque à participação popular é retrocesso democrático

Governo quer diminuir de 700 para 50 número de conselhos previstos pela Política Nacional de Participação Social
por Raimundo Bonfimpublicado 02/05/2019 15h24, última modificação 02/05/2019 15h25
Alan Santos/PR
Bolsonaro

Bolsonaro não acredita na opinião da população e quer excluir o povo da tomada de decisões

Em mais uma medida autoritária, o governo Bolsonaro deu um duro golpe na democracia direta, propondo o fim dos espaços de participação popular. Já durante a campanha eleitoral, o capitão reformado afirmou que iria acabar com o ativismo social, passando a ideia que a participação das pessoas na vida política do país é algo negativo. Quando na verdade é exatamente ao contrário.

No momento em que finalizo esse texto recebo a notícia que o ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu pedido de liminar impetrado pelo PT questionando a constitucionalidade do decreto. Agora, essa decisão será submetida ao plenário da Corte. Ou seja, a batalha não está ganha.

Quanto mais gente participando e opinando sobre os problemas do país, melhores soluções serão encontradas. O presidente não pensa assim. Pelo contrário, quer excluir o povo da tomada de decisões.

O decreto nº 9.759, de 11 de abril de 2019, coloca em risco a existência de aproximadamente 700 colegiados vinculados a administração pública direta e indireta. Espaços coletivos compostos por representantes da sociedade civil e do governo, têm atribuição de pesquisar dados, avaliar diagnósticos,  sistematizar, debater e formular propostas de políticas públicas, bem como monitorar o andamento da implementação e  fiscalizar a aplicação dos recursos.

O constituinte de 1988 percebeu que havia uma forte demanda da sociedade civil organizada, em especial dos movimentos sociais, reivindicando espaços institucionais de participação social nos variados setores das políticas públicas, em sintonia com as lutas por democracia, incluindo o direito de escolher seus representantes, mas também de participar de forma direta das decisões e escolhas políticas do país.

Essa demanda se apresentou  muito forte no final dos anos 1970 e início de 1980, e foi assegurada pela Constituição Federal de 1988, abrindo caminho para a sociedade civil  exercer o controle social sobres as políticas a serem implantadas pelo Estado. O caminho escolhido para essa participação foi o dos conselhos, conferências, audiências e demais órgãos semelhantes. São espaços importantes e democráticos que permitem na prática o exercício da cidadania para além do voto.

Muitos desses colegiados foram criados durante os anos de 1990, mas, sem dúvida, os governos Lula e Dilma ampliaram muito e criaram amplas condições para o aprimoramento e funcionamento desses instrumentos de exercício da chamada  democracia direta.

Atualmente em âmbito federal, estadual e municipal, existem milhares desses espaços onde se reúnem agentes públicos e representantes da sociedade civil, sendo que os últimos não recebem remuneração. Ao longo do período em que estiveram instituídos os debates e proposições realizados nos conselhos e conferências, eles deram base para a formulação de polícias públicas na áreas de saúde, educação, indígena, direitos humanos, habitação, mulheres, LGBT, idosos, assistência social, segurança alimentar, meio ambiente, criança e adolescente, cultura etc. Políticas essas que o presidente Bolsonaro faz questão de dizer que quer destituir.

Esta medida antipopular de Bolsonaro tem como finalidade acabar com esse vasto processo e experiência exitosa do exercício da democracia direta e controle popular, exatamente num momento em que estão sob forte descrédito as formas tradicionais de representação política e as instituições de Estado – que já não representam os interesses coletivos.

Afastar o povo das decisões políticas é típico de um governo autoritário, como é o caso de Jair Bolsonaro. Enfraquece a participação direta do povo e favorece os interesses do capital que se apropriam do Estado para defender seus interesses e retirar direitos da população.

Trata-se de mais um retrocesso sem precedente, entre vários outros, desse governo que mergulha o nosso país no caos econômico e social. O desmonte atinge todas as áreas e políticas sociais, causando aumento do desemprego, perda da soberania, privatizações do patrimônio do povo brasileiro, entrega dos recursos naturais para o capital internacional – em especial dos EUA –, aumento da pobreza, desigualdade social, fome, violência. O fim da participação popular e o desmonte das políticas públicas nas áreas de moradia popular, saúde, educação transporte, cultura – somados ao desemprego – irão, rapidamente, aumentar a degradação e o processo de empobrecimento no campo e nas cidades, onde milhões de pessoas se juntarão a outras que estão sobrevivendo nas ruas, favelas, cortiços, palafitas, ocupações ou em bairros e vilas sem acesso a equipamentos públicos e infraestrutura básica.

Com o desmonte das políticas públicas destinadas à população mais pobre e a extinção dos canais de participação popular, abre-se caminho para a violência e a barbárie, a exemplo dos assassinatos de 10 jovens dentro de um escola em  Suzano (SP), da morte do músico Evaldo Rosa dos Santos, com 80 tiros disparados por militares do Exército no Rio de Janeiro, das mortes das  pessoas no desabamento de prédio na capital fluminense, construído de forma irregular por grupos de milicianos ligados a assessores da família Bolsonaro, além do aumento da violência contra as mulheres, a juventude pobre e negra das periferias e a população GLBT. 

Esses são apenas e, infelizmente, alguns exemplos, dos inúmeros casos de violência ocorridos nos últimos dias. Lamentavelmente, devem aumentar o desemprego, desigualdade social, fome e a miséria em curto espaço de tempo, caso seja aprovado o desmonte da Seguridade Social, Previdência e Assistência Social e o pacote de encarceramento em massa proposto pelo Ministro da Justiça,  Sérgio Moro, ex- juiz que condenou Lula sem ter cometido crime.

Sem emprego, sem aumento real do salário mínimo, sem aposentadoria, sem política social, sem expectativa de estudo, sem terra, sem teto, o resultado é o aprofundamento da desigualdade social, jogando milhões de pessoas na pobreza absoluta.

O governo Bolsonaro tem como objetivo, de um lado, acabar com toda a rede de proteção social e participação popular consolidadas na Constituição Federal; doutro lado, encarcerar os pobres e reprimir e  criminalizar os movimentos sociais.

Não temos outro caminho a não ser  lutarmos unidos e de forma  permanente no enfrentamento a  esse governo autoritário, ultraliberal, entreguista, racista, machista e homofóbico. Os canais institucionais de participação social são uma conquista histórica da sociedade civil organizada e não podem ser extintos por meio de um decreto, por mera vontade de um governante de plantão.

É preciso forte pressão popular e articulação com deputados  federais com vista a impedir que a Câmara dos Deputados aprove esse decreto que coloca no fim da participação popular em nosso país.

Estima-se que no Brasil existam cerca de 23 mil conselheiros em diferentes áreas de atuação. É chegada a hora de convocar todos às ruas para defender os espaços de democracia direta e as políticas públicas.

Viva a democracia direta!

Raimundo Bonfim, coordenador nacional da CMP (Central de Movimentos Populares)

projeto seletivo

Governo Bolsonaro unifica ricos e descarta brasileiros mais pobres

Sob a terrorista narrativa repetitiva de que não há outra saída que não seja cortar ou destruir, os porta-vozes do dinheiro buscam iludir com reformas falsas
por Marcio Pochmannpublicado 29/04/2019 09h58
Wilson Dias/Agência Brasil
Desigualdade social

Panorama de desigualdade da nação não será alterado pelo governo Bolsonaro. A perspectiva, inclusive, é a do seu agravamento

As projeções cada vez mais frágeis na indicação de haver algum crescimento na economia nacional em 2019 apontam a gravidade da maior crise já experimentada pelo capitalismo no Brasil, cujo nível geral de atividade encontra-se 5,1% abaixo do pico alcançado em 2014. Se considerar o comportamento da renda nacional por habitante (PIB per capita), que acumula diminuição de 8,3% desde 2014, nota-se a inédita regressão ao ano de 2009, quando se iniciou a crise da globalização neoliberal.

Atualmente o país registra um a cada três brasileiros procurando por trabalho. Ao mesmo tempo em que o sistema produtivo tem substituindo empregos de maior produtividade e remuneração média anual de cerca de 50 mil reais no setor industrial por vagas de baixa produtividade e rendimento médio inferior a 17 mil reais ao ano decorrente do inchamento no setor de serviços.

Esse panorama geral da nação não será alterado pela orientação atual do governo Bolsonaro. A perspectiva que se apresenta, inclusive, é a do seu agravamento.

Diante disso, compreende-se como o conjunto dos ricos e endinheirados “jogou a toalha” em relação à possibilidade de construção da nação que possa integrar a totalidade da população. O curso do projeto dominante executado pelo “andar de cima” para resolver a mais grave crise do capitalismo no país é a salvação de não mais do que 1/3 dos brasileiros, sobretudo aqueles melhor situados no cume da pirâmide social.

Para tanto, o que tem prevalecido é o descarte social seletivo e programado de parcelas crescentes dos brasileiros sem qualquer possibilidade de vida decente. Sob a terrorista narrativa repetitiva de que não há outra saída que não seja cortar, desfazer e destruir, os porta-vozes do dinheiro buscam iludir o conjunto a ser descartado de que não alternativa para o retorno do crescimento econômico e geração de empregos.

Idêntica toada foi nos argumentos adotados pelo governo Temer e seus apoiadores para aprovar a Emenda Constitucional 95 que congelou por 20 anos os gastos públicos federais não financeiros. Após quase três anos de sua implantação, as finanças públicas seguem em desordem, mesmo que o discurso dominante siga sendo o de que sem corte contínuo nas despesas governamentais não haverá organização das contas do Estado.

Também seguiu o mesmo roteiro alarmista e equivocado adotado as justificativas na aprovação da reforma trabalhista e da terceirização generalizadas no mercado de trabalho. Ao se encaminhar para o segundo ano desde a sua implantação, nota-se que a reforma trabalhista e a terceirização manteve inatacável a gravidade do desemprego, contribuindo para ampliar a subutilização e precarização dos trabalhos existentes.

Apesar disso, segue prevalecendo a cantilena oficial de que sem a redução do custo do trabalho, as empresas não abrirão novas vagas. O inegável rebaixamento imposto ao custo da mão de obra no Brasil permitiu torna-lo menor que o atualmente praticado na China, permitindo ao patronato substituir empregados de maior remuneração pelos de menor salário.

Diante do projeto da deforma da previdência social apresentado pelo governo Bolsonaro, que conseguiu ser ainda pior do que o de Temer, o discurso segue o mesmo, apostando volta da “fada madrinha” da confiança dos capitalistas. Assim, a crença de ruptura na esfera pública para favorecer o avanço do setor privado nas áreas de serviços (previdência, saúde, educação e outros) segue sendo o receituário adotado para o país sair da crise.

Parece evidente que a unificação dos ricos e porta-vozes dos endinheirados em torno do projeto de descarte dos brasileiros, talvez a mais importante convergência política conformada desde o golpe de 1964, nada tem de saída para a profunda crise capitalista. Na realidade, o que se percebe é a tática voltada tão somente para salvaguardar os interesses dos ricos e endinheirados à custa do deslocamento do ônus dos ajustes para 2/3 dos brasileiros situados nas posições intermediárias e na base da pirâmide social.

Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas