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Berlinale: cinema anti-golpe brilha em festival alemão

Filme romeno 'Touch me not' levou o Urso de Ouro. Os filmes brasileiros 'Tinta Bruta' e 'Bixa Travesty' também foram premiados

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‘Bixa Travesty’ narra a trajetória da cantora transexual Linn da Quebrada, que se define como bicha, trans, preta e periférica

Berlinale sem polêmica não é Berlinale, e a 68ª edição não fugiu a esta regra. O primeiro prêmio, o cobiçado Urso de Ouro para o melhor filme foi para a produção romena Touch Me Not – Não Toque em Mim –, dirigido por Adina Pontilhe, que focaliza a dificuldade de homens e mulheres em relação à intimidade sexual. Houve até quem considerasse o filme como pornográfico, pelas cenas de nudez e busca de relacionamento sexual.

O cinema latino-americano, o brasileiro em particular, saiu-se muito bem nesta Berlinale. O filme mexicano Museo, dirigido por Alonso Ruizpalacios, sobre um bem sucedido mas desajeitado furto de 140 peças do Museu Nacional de Antropologia do México, nos anos 80, ganhou o Urso de Prata de Melhor Roteiro.

Ana Brun, do filme paraguaio Las Herederas, de Marcelo Martinesi, ganhou o Urso de Prata de Melhor Atriz. O Brasil participou na co-produção, e foi a primeira vez que um filme do Paraguai concorreu na Berlinale.

Quanto ao Brasil, comecemos com Tinta Bruta, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, que ganhou o Teddy Award (dado a filmes de temática LGBTI) de melhor filme. Tinta Bruta também ganhou o Prêmio Cicae, da Confedération Internationale des Cinemas d’Art et d”Essai. O filme Teatro de Guerra, da argentina Lola Arias, uma reencenação da Guerra das Malvinas por veteranos argentinos e britânicos, ganhou o prêmio Cicae na categoria Fórum, além do Prêmio do Júri Ecumênico.

Aliás, o Las Herederas, de Marcelo Martinessi, ganhou um Destaque, que equivale à Menção Honrosa, no Teddy Award. Ele ganhou também o prêmio Teddy Reader’s, o Prize Winner Competition 2018 e o prêmio da Associação Internacional de Críticos.

Continuando com o Brasil: Bixa Travesty, de Claudia Priscilla e Kiko Goifman, ganhou o prêmio Teddy de Melhor Documentário, com Linn da Quebrada. O filme foi aplaudidíssimo, e Linn recebia cumprimentos na rua por onde passava.

Zentralflughafen THL, dirigido pelo brasileiro Karim Aïnouz, uma co-produção brasileira e alemã, ganhou o prêmio da Anistia Internacional. O filme é um documentário sobre como vivem e sobrevivem os refugiados sírios, afegãos e russos no histórico aeroporto de Tempelhof, hoje desativado, e transformado simultaneamente em parque e abrigo para refugiados. 

O filme Obscuro Barroco, produção francesa e grega, direção de Evangelia Kranioti, sobre a cultura queer no Rio de Janeiro, com Luana Muniz conduzindo a narrativa, ganhou o Prêmio Especial do Júri Teddy.

Finalmente, O Processo, filme de Maria Augusta Ramos sobre o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, teve casa lotada em todas as sessões. As plateias aplaudiam o filme durante sua exibição. Na estreia o filme, que teve participação da própria Berlinale na sua produção, alem da Holanda, foi aplaudido de pé, e ganhou o prêmio de terceiro lugar na votação do público, uma honra em se tratando do Festival de Berlim e de seu público cinéfilo e sofisticado.

O filme consegue a proeza de sintetizar o processo do impeachment, desde sua abertura até o desfecho. A diretora informou ter 400 horas de gravação. A direção não é neutra, mas é objetiva e sóbria. Não há narração em off. Os personagens agem e se revelam por si mesmos. 

Em resumo, a 68ª Berlinale foi uma festa e uma vitória para o cinema brasileiro, pondo em relevo de forma vigorosa e rigorosa um Brasil denso e complexo – aquele que o condomínio golpista que nos assola desde 2016 quer esconder e talvez destruir.

 

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