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As esquerdas, as críticas ao PT e o pensamento em bloco

Ao contrário de mantermos a ideia de que os iluminados vão mostrar o caminho com suas autopropagandeadas tochas luminares, hora é de ligarmos antenas na juventude, que já está nas ruas

AGPT

Educação política, formação política, são coisas que cabem ao partido, não ao governo. Mas o partido não fez sua parte

Tenho ouvido pacientemente muitas críticas das extremas-esquerdas aos governos de Lula e Dilma, e ao PT.

A mais comum, hoje, é a de que “o PT deu pão, mas não ideologia”. Não são estes os termos empregados, mas definem o sentido das críticas.

Traduzindo nos termos que ouço seguidamente, o PT elevou o nível de consumo da população pobre, mas não deu educação política. Resultado: os egressos da pobreza consomem mais, mas pensam que isto se deve a seu próprio mérito, não às políticas públicas do governo.

Numa primeira observação, lembro que esta crítica lembra o esquema tradicional de que a massa é ignara, e a vanguarda pequeno-burguesa, iluminada. Esta deve iluminar aquela com seu saber e sua liderança.

A massa não é obrigatoriamente ignara, nem a vanguarda pequeno-burguesa necessariamente iluminada. Mas vamos adiante.

Esta crítica se vale de um bloco: “PT”. Aí entra tudo: governo, partido, Lula, lulismo, etc. Um bloco. Como se fosse uma peça de lego a encaixar num quebra-cabeça.

Vê-se o papel do bloco, mas não se analisa a sua constituição.

“O governo deveria dar educação política”, é o que ouço, com maior ou menor ênfase.

Certo? Errado. O governo deve providenciar acesso à educação formal – coisa que os governos do PT se esforçaram por proporcionar, e agora o governo golpista de Temer vai tentar retirar dos direitos do povo brasileiro.

Educação política, formação política, são coisas que cabem ao partido. Portanto, aqui cabe uma divisão no bloco que a extrema-esquerda maneja: o seu “PT” tem duas partes, pelo menos, partido e governo.

O governo cumpriu seu papel.

O partido não. Faz muito tempo, por exemplo, que o partido PT não tem uma política para a juventude, muito menos de formação para a juventude. O partido não rompeu com todas as suas virtudes, mas perdeu o rumo neste quesito, o de formação de quadros, de novos quadros, tendo virado uma máquina eleitoral como outras, embora não tão pervertida como as do PMDB, do DEM, do PSDB etc.

Ou seja, a falha, neste sentido, foi menos de governo, do que de partido.

Outra coisa: ouvindo estas críticas, muitas vezes ditas com um ressentimento, que é mau conselheiro, tenho a impressão de que seus formuladores dizem que apenas o seu “PT” – este bloco que querem enquadrar na sua arquitetura – cometeu erros.

Mas a extrema-esquerda também cometeu erros, e muitos. Também deixou de procurar a formação de quadros. Ao contrário, seguidamente concentrou-se numa crítica rasante de tudo o que os governos petistas fizeram, como se fosse tudo parte de uma fancaria teatral. Tirar dezenas de milhões de pobres da miséria não valia nada. Abrir agências do Estado à participação de setores nelas nunca dantes contemplados também não valia nada. Ou seja: as esquerdas mais à esquerda hoje não têm condição, com raras exceções, de se colocarem como símbolo do avanço além-petista.

Até porque em muitas ocasiões se colocaram no papel de “aquém-PT”. Não dá pra esquecer as cenas da senadora Heloísa Helena marchando ombro a ombro com ACM Neto e quejandos nas denúncias udenistas contra o PT, amplamente filmadas e propagandeadas pela Rede Globo e afins. Tudo pelos holofotes: a máxima vale para os procuradores e juízes da Lava Jato e proximidades, mas também valeu para muitas das extremas esquerdas, cada qual com seu estilo.

O resultado disto tudo é que hoje temos poucas figuras mais à esquerda das petistas que seguem fiéis a princípios de inspiração democrática e social-democrata com projeção para valer. Jean Wyllys, no Rio de Janeiro, é bem-vinda exceção. Deve haver outras. O PCdoB, tanto quanto eu saiba, é um partido que ainda se preocupa como uma política para a formação da juventude.

E a juventude está nas ruas. Liguem-se as antenas. Vamos aprender com ela. [email protected] Ao contrário de mantermos a ideia de que os iluminados vão mostrar o caminho com suas autopropagandeadas tochas luminares.

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