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Boaventura, Grzybowski, Grajew e Gina Vargas elogiam maturidade do FSM

por Eduardo Castropublicado 10/02/2011 19h18

Dacar (Senegal) – O Fórum Social Mundial deveria intensificar a atividade política e aproveitar melhor as informações que estão em circulação, como as que vazam pelo sítio Wikileaks. A opinião é do pensador português Boaventura de Sousa Santos. “A comissão de Comunicação tem que ter um papel muito mais ativo, mais interveniente”, diz ele. “Precisamos de mais análise e organização profissional, produzindo anualmente um relatório econômico mundial, sobre o mundo que queremos e o mundo que não queremos, que não pode ser igual ao do Fórum Econômico Mundial ou o da ONU (Nações Unidas).”

Para Boaventura, o encontro, que já está na décima primeira edição, não pode perder suas características, mas deve se transformar. “É um ano de grande reflexão sobre as mudanças que têm que ocorrer dentro do próprio fórum. Penso que já há um consenso de que ele tem que ser esse espaço maravilhoso, aberto, de face à face, de encontros a cada dois anos, mas também tem que ser algo mais. Temos que intensificar a atividade política do fórum”.

Autor de mais de 30 livros, entre eles Renovar a Teoria Crítica e Reinventar a Emancipação Social; Refundação do Estado na América Latina; A Ascenção da Esquerda Global: O Fórum Social e Além; e Fórum Social Mundial: Manual de Uso, Boaventura acredita ser esta a hora de “intensificar as formas de educação e comunicação entre os movimentos. Ainda temos muitas dificuldades nessa articulação e na estratégia”. Como algo a ser criado, ele cita a Universidade Popular dos Movimentos Sociais, em termos continentais.

Sobre os temas debatidos este ano, o acadêmico, que é diretor do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale, destaca a própria África, que recebe o fórum pela segunda vez (a primeira foi em Nairóbi, no Quênia, em 2007). “Penso que a África vai ter outra centralidade nos negócios do mundo”, afirma Boaventura. “Hoje, é a ainda um continente onde o neoliberalismo – que já esteve muito presente na América Latina e hoje já não é tanto – ainda está muito dominante. Infelizmente, aqui, a União Europeia faz o mesmo papel dos Estados Unidos na América Latina. Mas a resistência contra isso está muito evidente aqui, com os africanos na defesa da sua economia familiar, das suas sementes, sua agricultura, sua terra. O fórum é um enorme sucesso para a África, sobretudo.”

As revoltas sociais vividas no Egito e na Tunísia nos últimos meses são, segundo ele, uma prova de que a África é um “continente em movimento”, e que as transformações políticas “provavelmente não serão confinadas a esses países”.

“O fórum é a escola mais rica de cultura política que nós inventamos, mas também é a mais frágil, pois é uma coisa simples”, diz Cândido Grzybowski, diretor-geral do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e do Comitê Internacional do Fórum Social Mundial. Segundo ele, reduzir o número de atividades este ano (de 5 mil para cerca de mil) foi positivo. “O temário foi o mais avançado de todos os fóruns. É o mais bem concentrado e articulado. Há uma convergência entre os temas. Já não é mais ‘contra o FMI’, ou ‘contra o Banco Mundial’, ‘G8’, ou ‘G20’. É uma mudança ligada à crise do neoliberalismo, que ninguém acredita mais que possa se recuperar. Estamos tentando construir alternativas”, afirma Cândido.

Para a peruana Gina Vargas, da Articulação Feminista Marcosul Latinamérica, os obstáculos logísticos foram superados com discussões produtivas.“Estamos abrindo novas perspectivas que me parecem fundamentais para pensar outros mundos que sejam possíveis, libertos, plurais e democráticos”.

Para o empresário Oded Grajew, um dos criadores do Fórum, o eixo central das atividades ligadas ao Brasil foram as articulações em torno da Rio+20, conferência que pretende rever o cumprimento da Agenda 21 de crescimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental estabelecida na Conferência Rio 92.

“É uma grande conferência mundial sobre a economia chamada de verde, modelo de desenvolvimento que faz com que a vida, no decorrer do tempo, seja melhor, e não pior. Aqui se articulam vários movimentos para que a Rio+20 produza os resultados que a gente espera”, afirma Grajew. Mas, diz ele, o mais importante é o que vem depois. “Todos nós militamos fora do fórum. O fórum dá a oportunidade das pessoas e organizações colocarem para todos as suas causas e se articularem com outros para ter mais força política para fazer as coisas acontecerem”.

Fonte: Agência Brasil

Negros trocam experiências no Fórum Social Mundial

por Eduardo Castropublicado 09/02/2011 19h06

Dacar (Senegal) – Entidades brasileiras ligadas ao movimento negro aproveitam o Fórum Social Mundial na África para trocar experiências e ideias com ativistas de outras partes do mundo. A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu 2011 como sendo o Ano Internacional dos Afrodescendentes.

“Essa determinação nos leva a estabelecer um compromisso de discutir quais os avanços e quais os desafios que temos ainda pela frente para melhorar a qualidade de vida do povo negro no mundo”, diz Gilberto Leal, da Coordenação Nacional de Entidades Negras. “O papel da diáspora está sendo rediscutido, em face do chamado renascimento africano.”

Segundo Leal, há três propostas em pauta para a discussão do movimento negro, que vai optar por uma para apoiar. “A Odeco (Organização de Desenvolvimento Étnico Comunitário, de Honduras) propõe um encontro este ano. A Alai também quer discutir o tema em maio, para fazer o mapeamento do desafio das organizações negras para um avanço mais revolucionário, não apenas submetido aos governos. E a outra proposta vem de uma associação americana, da filha de Malcolm X, para um encontro em Nova York. Estamos estudando qual vamos apoiar”, afirma.

“O esforço pela libertação do povo negro continua, e de várias formas”, diz Melanie, ativista norte-americana que está no Senegal para o Fórum Social. “Na cultura, na alimentação, nos direitos das mulheres, nos cuidados com saúde, no combate ao HIV/Aids, homofobia. São lutas que não podem ser desconectadas.”

Além de debates, o Fórum também é um espaço para a troca de experiências. Uma delas está sendo demostrada na via da principal entrada do campus da Universidade Cheik Anta Diop, onde ocorre a maior parte das atividades. Uma plantação circular, com um pequeno galinheiro no meio, chama a atenção de quem passa. 

É um protótipo do modelo de produção familiar desenvolvido pelo engenheiro agrônomo senegalês Aly Ndjai, que estudou no Brasil. “Trazer isso para cá é um sonho antigo”, diz. “A África cansou de depender. E com tecnologias desse tipo – fáceis de replicar, de alto impacto e que podem ser feitas pelos senegaleses e para os senegaleses – não podia ter alegria melhor.”

O modelo desenvolvido por Ndjai está implantado em 22 estados brasileiros. Um dos lugares é a fazenda orgânica do ator Marcos Palmeira, localizada em Teresópolis/RJ, a Vale das Palmeiras. Ele também está em Dacar e participa do Fórum Social Mundial.

Fonte: Agência Brasil

Lula no fórum: não se pode trocar neoliberalismo por nacionalismo atrasado

por Eduardo Castropublicado 07/02/2011 17h00, última modificação 09/02/2011 16h27

Dacar (Senegal) – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou do Fórum Social Mundial uma postura firme diante da posição dos países ricos em relação à África. “Penso que o fórum deveria tomar uma decisão: não é possível que o mundo rico não assuma um compromisso com o Continente Africano, exatamente no momento em que o preço dos alimentos sobe no mundo inteiro. Não pensem que o G20 tem sensibilidade para o problema da fome. Só fomos chamados para reuniões com os países ricos quando eles entraram em crise e precisavam do nosso apoio”, afirmou Lula.

Lula ganhou aplausos dos representantes dos movimentos sociais que lotaram o auditório, entre eles muitos brasileiros, ao dizer que acha que “não faz sentido que FMI [Fundo Monetário Internacional] e Banco Mundial imponham ajustes que inviabilizem políticas públicas de incentivo à agricultura em países pobres”.

Também foi saudado ao afirmar que é cada vez mais forte a consciência de que fracassou o chamado Consenso de Washington (conjunto de medidas pactuadas em 1989 por organismos financeiros multilaterais, como FMI e Banco Mundial, que serviu de base para políticas de estabilização econômica de países em desenvolvimento). “Quem, com arrogância, nos dava lições, não foi capaz de evitar a crise nos seus próprios países. Felizmente não vigoram mais as teses do Estado mínimo, sem presença reguladora. O mercado já não é mais a panaceia”.

Lula completou dizendo que não se pode trocar o neoliberalismo pelo “nacionalismo atrasado, opção da direita americana e europeia, culpando o imigrante pela corrosão social”.

Lula participou de uma mesa sobre o peso geopolítico da África, ao lado do presidente de Senegal, Abdoulaye Wade. “O Brasil não tem pretensão de ditar modelos para ninguém”. Mas, segundo ele, “nosso êxito pode ser um estímulo para a construção de um caminho alternativo, com desenvolvimento sustentável e igualidade social”.

“É hora de colocar o desenvolvimento e a democracia no centro da agenda africana”, afirmou o ex-presidente. “É urgente incorporar à cidadania milhões de africanos pobres, o que será importante também na recuperação da economia mundial”. A saída, segundo ele, é produzir alimentos. “Não há soberania efetiva sem segurança alimentar”.

Lula disse que leva ao fórum a mensagem de quem governou o país com a segunda maior comunidade negra do mundo (80 milhões de pessoas), menor apenas que a da Nigéria. Repetiu o pedido de desculpas feito quando da primeira visita ao Senegal, em 2005, por causa do processo de escravidão ocorrido no Brasil até o fim do século XIX. “A melhor maneira de reparar é lutar para fazer desse Continente um dos mais prósperos e justos do século 21”.

Na sequência, o presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, afirmou ter “profundos desacordos” com os participantes do fórum porque é “um liberal, partidário da economia de mercado, e isso diz tudo”. Entretanto, afirmou, o Fórum Social é importante porque “o mundo espera pela ideia que o salvará do caos”.

Presidente desde 2000, Wade afirmou que o Senegal melhorou muito desde então. “A renda per capita era de menos de US$ 0,5 mil em 1999. Hoje é de US$ 1,34 mil, duas vezes e meia o limite da pobreza”. O país também é autossuficiente na produção de alimentos.

“A aspiração à mudança é fundamental. E hoje a África está numa encruzilhada. A imagem é de continente pobre, mas é preciso corrigir essa ideia. Ela não é pobre – foi empobrecida”, sentenciou o presidente do Senegal. Wade disse que apoia a proposta de taxação do fluxo de capitais em 20%, o que geraria recursos para combater a pobreza. E defendeu que a África tenha um assento com direito a veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). “70% dos temas tratados [no conselho] são relativos à África”, disse o presidente senegalês.

Fonte: Agência Brasil

No FSM, Brasil volta a pedir desculpas pela escravidão

por Fabio M Michel, da RBApublicado 07/02/2011 11h10, última modificação 07/02/2011 13h09

São Paulo – Em sua participação na abertura da 11ª edição do Fórum Social Mundial, em Dacar, no Senegal, o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, repetiu um gesto feito pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em algumas ocasiões (inclusive no Senegal, em 2005) e pediu desculpas pela escravidão.

“Como já disse o presidente Lula, venho pedir perdão aos irmãos africanos pelo processo de escravidão no Brasil”, disse Carvalho, provocando aplausos da plateia. Ele lembrou que o país avança para reconhecer sua ascendência histórica. “Para nosso orgulho, os afrodescendentes já são maioria da população brasileira.”

O ministro também reconheceu que a pobreza ainda é um problema que “envergonha e vitima milhões de brasileiros” e indicou que o combate à miséria seguirá como prioridade no atual governo. “Somos milhões de trabalhadores, estudantes, servidores públicos, todos com a esperança de que outro mundo é possível”, finalizou.

Sobre a crise institucional que afeta o mundo árabe e em especial o Egito, Carvalho preferiu a diplomacia. “O Brasil tem uma posição de cautela, observação e apoio à democracia”, disse, para explicar por que o país não fará pedidos pela saída imediata do presidente Hosni Mubarak.

Ainda em seu discurso de abertura, Gilberto Carvalho lembrou que o Brasil abrigou as primeiras edições do fórum, em Porto Alegre (RS), em 2001, onde se discutiram alternativas que, depois, se mostraram úteis no combate, por exemplo, à crise mundial.

“A crise nos levou a fugir do caminho imposto pelo FMI [Fundo Monetário Internacional] e outros órgãos, que levou à recessão e miséria”, disse Carvalho. “Era a fórmula da derrota. Mas vimos que nós podíamos encontrar o caminho verdadeiro, deixando de lado a cartilha neoliberal. Preferimos apostar no financiamento à produção e no consumo interno, que nos tirou da crise antes dos outros.”

Carvalho disse que o Brasil compareceu ao fórum para ouvir e partilhar experiências. De acordo com ele, “governo nenhum salva país algum” sem ouvir a sociedade. “A crise internacional só confirmou que era preciso estabelecer novas relações econômicas, sociais e políticas no mundo. E o fórum foi esse laboratório.”

Com agências

 

Começa Fórum Social Mundial 2011, com ênfase no desenvolvimento da África

por Rede Brasil Atualpublicado 06/02/2011 14h26, última modificação 07/02/2011 11h12

Brasília – Participantes de 123 países se reúnem a partir deste domingo em Dacar, no Senegal, para a 11ª edição do Fórum Social Mundial (FSM). A África e os problemas sociais enfrentados pelos povos da região deverão dominar as discussões durante os seis dias do evento. São esperados cerca de 50 mil participantes, a maioria deles de países da região.

Durante o chamado Dia da África e da Diáspora, marcado para segunda-feira (7), as mesas de debate vão incluir temas como crise alimentar, subdesenvolvimento, agricultura familiar, saúde, seguridades social, acesso à água e a saneamento. Mas Oded Grajew, também membro do grupo que fundou o fórum, acredita que a discussão irá se desdobrar para outros temas.

“Teremos muitos debates sobre a realidade africana, mas isso também vai levar o encontro a discutir uma série de outros temas como a distribuição de renda, a injustiça social no mundo, as mudanças climáticas. A África tem sido grande vítima dessas questões”, aponta o sociólogo Cândido Grybowsky, um dos fundadores do FSM.

Os conflitos no Egito e a questão da democracia no mundo árabe também devem ocupar espaço na agenda do fórum.

Delegação

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou de todas as edições do FSM no Brasil, estará presente em Dacar. Como representante do governo brasileiro, a presidente Dilma Rousseff vai enviar o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Integram a equipe ainda a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, e a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Helena de Bairros.

O primeiro FSM ocorreu em 2001, em Porto Alegre, como uma alternativa ao Fórum Econômico de Davos. Desde então, o Brasil sediou a maioria das edições do evento que tem como slogan Um Outro Mundo É Possível.

Grajew acredita que as discussões do FSM foram importantes para as “mudanças de rumo” dos quadros políticos da América Latina e a ênfase desses governos nas questões sociais. “Nas primeiras edições do fórum, o neoliberalismo já era uma das grandes discussões até ele se desmoralizar e hoje nem em Davos se fala sobre isso. Hoje a discussão é sobre um novo modelo de desenvolvimento, a questão de democracia, da governança global”, pontua.

Com informações da Rede Brasil Atual

Lula confirma presença no FSM de Senegal

Dilma será representada por Gilberto Carvalho
por anselmomassadpublicado 02/02/2011 18h05, última modificação 03/02/2011 18h35

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai participar do Fórum Social Mundial 2011, realizado em Dacar, capital do Senegal. O evento ocorre de 6 a 11 de fevereiro e marca a segunda incursão do encontro altermundista ao continente africano.

Lula esteve em todas as edições brasileiras do FSM (em 2001, 2002, 2003 e 2005). Esta deve ser sua primeira participação em eventos internacionais após deixar o cargo. Ele deve participar de um painel sobre o continente africano no dia 7.

Para o sociólogo Cândido Grzybowski, um dos fundadores do FSM, entrevistado pela Agência Brasil, a presença de Lula deverá causar “alguma confusão” em Senegal.

“As pessoas vão estar muito curiosas para vê-lo. Hoje, ele tem uma visibilidade muito grande e acho que ele é até mais respeitado lá fora do que aqui”, opina. O organizador do fórum acredita que a ausência de Dilma Rousseff é natural, já que, dessa vez, o Brasil não é o anfitrião do evento.

O governo brasileiro será representado pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Seu antecessor, Luiz Dulci, representou o governo brasileiro em edições na Índia e no Quênia.

A contribuição do FSM para as questões do futuro

por João Peres, de Porto Alegrepublicado 01/02/2010 11h00

Como foi informado anteriormente, o Fórum Social Mundial em 2010 é descentralizado, vai ocorrer ao redor do mundo, na forma de fóruns regionais ou temáticos, e ao longo de todo o ano, e por isso alguns dos temas surgidos em Porto Alegre certamente contribuirão às discussões em outros lugares.

Neste fim de semana, por exemplo, Salvador deu continuidade aos debates, entre os dias 20 e 31 de janeiro – a Rede Brasil Atual acompanhou. Como balanço final dos trabalhos na capital gaúcha, separamos alguns dos assuntos que serão apresentados em outras partes do planeta e podem estar presentes na reunificação, em 2011, no Senegal.

Pós-capitalismo

O tema, que ganhou força com a crise financeira, manteve papel central neste ano, já com algumas derivações. Esteve presente nos discursos de diversos painéis a noção de que estamos vivendo uma crise civilizatória, na qual o sistema econômico é um dos pilares que estão por ruir. Essa crise afeta também as relações culturais, ambientais e sociais.

Como bem definiu o pensador português Boaventura de Sousa Santos, ainda não se sabe o que será o pós-capitalismo. “Há uma diferença no Fórum dos que pensam que a solução é o capitalismo benévolo, outros que pensam que a solução é ambiental, outros que pensam que deve ser num contexto pós-capitalista. O que é certo é que todos estão hoje convencidos no Fórum de que não podemos perder oportunidades de melhorar a vida das pessoas agora. Não temos de esperar uma aurora brilhante adiante porque, se não atuarmos já, provavelmente o ‘lá adiante’ não existirá”.

Bem Viver

A importância de não separar temas ambientais dos sociais e políticos fortaleceu-se a partir de Belém (2009) e este ano foi um dos guias da pauta. É consenso que não se pode tratar os assuntos divorciados entre si, como se o aquecimento global nada tivesse a ver com o sistema capitalista.

Dentro disso, outro assunto surgido no Fórum do ano passado foi citado em diversas discussões. Houve até  mesmo uma importante mesa sobre o Bem Viver. A conclusão é  de que, para o Bem Viver, um conceito indígena, não é preciso preencher os requisitos econômicos do sistema atual.

Mercia Andrews, ativista sul-africana, lembrou de uma província de seu país extremamente rica na produção de frutas e vinhos, mas com uma enorme concentração de terra e situações de extrema pobreza. Uma pesquisa conduzida por ela mostrou que a maioria das pessoas considerava que, para viver bem, bastaria uma pequena faixa de terra na qual pudessem produzir subsistência e uma escola próxima para os filhos.

Obviamente, o conceito e as necessidades variam de acordo com a região e a situação.

Valorizar o tradicional

O tema do Bem Viver surgiu a partir da inserção dos povos andinos no debate. As sociedades originárias de Bolívia, Peru e Equador cultivam o respeito à natureza (Mãe Terra ou Pachamama) há muitos séculos e sabem que não pode haver divórcio entre ambiente e os modos de vida.

Sobre isso, duas intervenções foram interessantes. A primeira delas foi de Roberto Espinoza, do Fórum Crise de Civilização, do Peru, que fez duras críticas à atuação de empresas brasileiras nos países da América do Sul. Ele citou projetos da IIRSA, iniciativa de integração continental que tem megaprojetos ligando o Atlântico ao Pacífico ou instalando hidrelétricas em regiões amazônicas.

“Para sair da crise financeira se requer mais petróleo, mais mineração, mais pressões sobre a Mãe Terra. A alternativa de desenvolvimento sustentável tem de render contas de sua incapacidade de parar o suicídio planetário”, completou.

A outra intervenção relevante no sentido do Bem Viver foi de Segundo Churuchumbi, da Confederação dos Povos Quéchua do Equador. Ele basicamente falou de algo que todos vinham reconhecendo como fundamental: a valorização dos conhecimentos tradicionais como alternativa ao atual modelo.

“Respeitar Pachamama (o planeta, numa tradução livre) significa a não-contaminação da água, do ar, de nosso solo, nossa casa, nossa vida. Não ao saqueio insustentável dos recursos naturais. Se seguirmos no atual modelo, a vida vai desaparecer desse planeta”, afirmou.

Boaventura de Sousa Santos destacou que a transição da natureza capitalista à natureza solidária – ou da Mãe Terra – é uma das cinco mudanças necessárias para chegar ao pós-capitalismo. O professor da Universidade de Coimbra manifestou que será na América Latina que deverá surgir uma globalização alternativa e que, para isso, o Brasil precisa reconhecer seu papel e deixar de omitir-se.

Se é preciso valorizar os conhecimentos tradicionais, está bem encaminhada a realização do próximo Fórum no Senegal. O continente africano é, possivelmente, o que melhor preservou esses conhecimentos, que até hoje passam de geração em geração pela cultura oral.

Papel da sociedade

A construção da próxima etapa, até  agora chamada de pós-capitalista, não será fácil – e muitos acreditam que sequer virá. De toda maneira, foi consenso neste Fórum um tema que já havia surgido anteriormente, que é da construção da hegemonia de baixo para cima, ou seja, da sociedade civil para o Estado.

Nesse ponto entra a importância da articulação entre os movimentos de maneira a formar um diálogo que, segundo alguns dos fundadores do processo Fórum Social Mundial, ainda não ocorreu efetivamente.

“Se você olhar os temas da nova agenda, não estamos falando dos temas ‘clássicos’ da esquerda. Não estamos falando só do Estado, estamos falando em repensar o Estado e se o Estado tem de ser a forma de organização. É uma forma hegemônica que parte do Sul para o Sul. O reconhecimento de que a transformação se faz com os movimentos, a partir deles e da articulação deles, é uma ideia que já é a construção de uma nova hegemonia”, assinala Moema Miranda, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).

Além disso, considera-se que a construção da nova hegemonia só será possível caso se faça justiça com o passado, ou seja, deixe-se de lado de uma vez por todas os preconceitos, como o sexismo, o colonialismo e o racismo.

“O Fórum Social Mundial está no território intermediário entre o que já não é e o que ainda virá a ser. O velho e o novo se disputam permanentemente”, assinalou a feminista uruguaia Lilian Celiberti.

Em resposta a João Pedro Stédile, do MST, que havia apontado a luta antiimperialista como foco, ela afirmou: “A diversidade nos coloca frente a nossas próprias contradições. A luta antiimperialista não basta. Precisamos da luta antirracista, antipatriarcal. A hierarquização das lutas é um dos temas que se colocam em disputa no Fórum”.

Possível ou necessário?

Mais uma das questões levantadas por Boaventura de Sousa Santos é de que é preciso superar dois problemas ao mesmo tempo. Por um lado, luta-se pela formação de um novo modelo de mundo. Por outro, pela superação de injustiças do atual contexto, como a desigualdade social, a exclusão e a miséria.

Dentro disso ganha a cada ano mais seguidores a ideia de que os países devem parar de crescer. Ou seja, desenvolvimento econômico deixaria de ser o discurso-base para atingir melhorias sociais.

Marcha encerra o Fórum Social Mundial

por anselmomassadpublicado 31/01/2010 12h15, última modificação 01/02/2010 14h23

Marcha de encerramento do FSMT-BA (Foto: Alberto Coutinho/Agecom Bahia)

Direto de Salvador – Depois de três dias de discussões, o Fórum Social Mundial Temático Bahia encerra-se neste domingo (31) com uma marcha prevista para o final da tarde.

Assim como em Porto Alegre, a convergência de crises e as oportunidades abertas por ela foram temas centrais. O formato dos eventos e do processo do Fórum teve menos destaque do que na região metropolitana da capital gaúcha, mas houve mais ênfase em debates sobre questões raciais e sobre os rumos do Brasil.

Outros eventos estão programados para o ano (clique aqui para conhecer a relação completa) e, em 2011, os ativistas cujo lema é “um outro mundo é possível” vão a Dacar, no Senegal.

Confira outras imagens:

Foto: Alberto Coutinho/Agecom Bahia

 

Foto: Alberto Coutinho/Agecom Bahia

Para Gadotti, dispersão de atividades em Salvador tirou “cara de fórum”

Educador e membro do Comitê Internacional comemora qualidade dos debates sobre oportunidades geradas pela crise e avisa: ano eleitoral começou
por anselmomassadpublicado 31/01/2010 10h44

O ano eleitoral começou em Salvador, na visão de Moacir Gadotti, diretor-geral do Instituto Paulo Freire e membro do Comitê Internacional do Fórum Social Mundial. A presença de personalidades como o governador da Bahia Jacques Wagner e do ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias aumentou a ênfase de debates relacionados ao futuro do país. Além disso, Gadotti destaca discussões relacionadas a oportunidades abertas pela convergência de crises econômica, ambiental e social.

Apesar da avaliação positiva sobre a realização do Fórum Temático na Bahia, o educador considera que houve mais problemas de organização em Salvador do que na região metropolitana de Porto Alegre e que falou “cara de Fórum” ao encontro. A dispersão de atividades entre hotéis e faculdades levou a se perder um dos objetivos do evento que são trocas e conversas entre ativistas fora das atividades, formando alianças e parcerias.

Gadotti discute ainda a ida a Dacar, capital do Senegal, em 2011. Com mais estrutura do que Nairóbi (Quênia), onde ocorreu o Fórum de 2007, a cidade deve fomentar debates sobre o continente africano.

Confira a entrevista:

Entrevista

Moacir Gadotti

diretor-geral do Instituto Paulo Freire

RBA – A sequência de fóruns em Porto Alegre e Salvador teve qual efeito, em sua opinião? Houve um certo esvaziamento?

É preciso entender que o Fórum de 2010 é descentralizado, existem atividades ocorrendo no mundo inteiro, em dezenas de países e cidades. Ele segue o princípio da mundialização e da expansão do Fórum, mas tem um caráter específico, diferente daquele de 2009 e de como vai ser em 2011. Por isso houve, no Brasil, em dois lugares, na região metropolitana de Porto Alegre e em Salvador. Acompanhei a preparação de ambos e depois fui aos dois. No de Porto Alegre, toda a programação relativa aos 10 anos, ao balanço, foi muito bem cumprida. As expressões e a diversidade de pontos de vista colocadas mostrou que é importante que esse debate sobre o formato esteja sempre com a gente. Somos formados com uma cabeça e o Fórum pensa com outra. As sete cidades em Porto Alegre e Salvador cumpriram o que foi programado, mas acho que houve mais problemas de organização no Fórum temático da Bahia, foram maiores as dificuldades cujas razões não sei. Não se compara a experiência de organização de Porto Alegre com a de Salvador.

RBA – Quais foram as dificuldades?

Foi de não conseguir divulgar a programação em tempo hábil, de haver mudanças não confirmadas. Mas os debates ligadas a Crises e Oportunidades tiveram toda a programação executada dentro do previsto, com uma participação extraordinária, sempre com auditórios lotados, falas começando e terminando no horário. E a qualidade foi impressionante.

RBA – Por ter parte das atividades realizadas em hotéis, o clima foi bem diferente de outras edições e mesmo de eventos regionais e temáticos. O “espírito do Fórum” esteve presente?

Sou um otimista crítico. Participei de atividades em hotéis e na universidade. Recebi, do público, uma reclamação quando estava falando no teatro Carlos Gomes, na primeira atividade, em um auditório grande que não estava cheio por problemas de credenciamento no primeiro dia. Uma pessoa criticou o uso em excesso de hotéis. O que aconteceu em Salvador é que as atividades foram muito dispersas, não houve um espaço onde as coisas acontecem. A gente vem para o Fórum não só para falar, ouvir e debater, mas também para se encontrar (fora das mesas e conferências), construir alianças. Não houve aqui um espaço característico para dizer: “aquela é a cara do Fórum”. Mas apesar de todas essas falhas, que acontecem em todos os eventos em maior ou menor grau, acho que o Fórum de Salvador foi importante e exitoso.

RBA – Por que?

Vou colocar dois pontos que me parecem importantes. O primeiro érelacionado a oportunidades criadas pelas crises, de repensar o modelo, paradigmas de vida e civilizatórios. Isso ficou muito mais claro com uma série de atividades. A importância de buscar outro modelo econômico. O outro ponto, sobretudo na mesa da qual participou o ministro Patrus Ananias e o governador do estado (Jacques Wagner) e integrantes da CUT, MST e de outros sindicatos, colocou-se sobretudo o futuro do Brasil. O debate sobre a crise discutiu seus efeitos para a humanidade, apontando alternativas, mas houve mesas que trataram de discussões sobre que país queremos. Se queremos continuar nesse ritmo de reformas necessárias ou se vamos mudar de rumo. Em Salvador, a questão política e eleitoral foi colocada e as contradições também. Participei, por acaso, porque estava passando, de uma reunião da Conlutas (entidade sindical ligada ao PSTU) em que movimentos de esquerda apresentando profundas críticas a governos municipais, estaduais e o federal. Mostraram o lado de muitos problemas que ainda existem. O fato é que o debate político foi muito mais forte do que em Porto Alegre, onde se ficou mais em temas como os dez anos, o Acampamento da Juventude, atividades de economia solidária extraordinárias e uma variedade temática extraordinária. Aqui a questão política foi muito forte e os grupos presentes aqui manifestaram seus pontos de vista com muita veemência. Achei o debate muito caloroso do ponto de vista crítico e eleitoral. Para mim, o ano eleitoral começou em Salvador.

RBA – Depois de Salvador, há outros eventos no mundo, mas em 2011 o Fórum ocorre em Dacar. Como o senhor vê essa nova ida ao continente africano?

O Fórum Social Mundial tem de ser mundial. Ele ainda é muito latino-americano e europeu, tem avançado nos Estados Unidos e no Canadá. Na Ásia e na África, temos muita dificuldade de expansão. Por isso foi a Nairóbi em 2007, mas antes a Karachi (Paquistão em 2006), em edição descentralizada, e Mumbai (Índia) em 2004. Há essa tentativa do Fórum. O continente africano é esquecido e precisamos colocá-lo no mapa de novo. Uma forma de se realçar as contradições e dificuldades dos povos africanos é ir para lá, ver gente, levar pessoas, levar jornalistas – mesmo que da mídia alternativa, já que a do mainstream não se interessa. É uma forma de o Fórum prestar um serviço aos povos da África. Aqui, o Fórum de Salvador também tinha esse objetivo de fazer uma ponte com os países africanos para poder ter mais ênfase nas relações Sul-Sul. Vamos nos preparar agora, tentar organizar melhor o programa. Pelos eventos internacionais que já sediou, Dacar tem mais estrutura do que Nairóbi, fica mais próximo das Américas e da Europa. Depois discutir, em 2009, a Amazônia e o clima, com uma latino-americanidade muito forte, vamos ter uma africanidade forte.

Perseguição a sindicatos na Colômbia, pré-sal e racismo

por anselmomassadpublicado 31/01/2010 10h32

Direto de Salvador – Pela dispersão de eventos e atividades no Fórum Social Mundial Temático Bahia, é impossível acompanhar todas as atividades. Com problemas de organização e mudanças de horários nos eventos, a cobertura de veículos alternativos e de organizações sindicais ajuda a saber o que está acontecendo.