Fórum econômico de Davos admite ‘crise de valores’

Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, admite necessidade de reforma na arquitetura do sistema financeiro (Foto: Remy Steinegger/FEM) A uma semana de iniciar sua 40ª edição, em Davos, na […]

Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, admite necessidade de reforma na arquitetura do sistema financeiro (Foto: Remy Steinegger/FEM)

A uma semana de iniciar sua 40ª edição, em Davos, na Suíça, o Fórum Econômico Mundial publica pesquisa sobre como a população enxerga a economia e os responsáveis pela crise de 2008 e 2009. A conclusão do levantamento é de que os entrevistados consideram que as empresas multinacionais não agem com base em valores como honestidade, integridade e transparência.

Foram ouvidas 130 mil pessoas em 10 países – França, Alemanha, Índia, Indonésia, Israel, México, Arábia Saudita, África do Sul. Dois terços dos entrevistados reconhecem, na crise econômica pela qual o mundo passa, também uma crise ética e de valores. O índice alcança 79% entre os participantes maiores do que 30 anos.

Apenas um em cada quatro entrevistados consideram que empresas multinacionais agem a partir de valores. Mais de 60% disseram que as pessoas não aplicam os mesmos padrões em suas vidas profissionais e pessoais.

“Como a atual crise econômica revelou, tornou-se evidente que a arquitetura financeira internacional necessita de reforma”, escreveram John J. DeGioia, presidente da Universidade de Georgetown, e Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico, na apresentação da pesquisa. “Também é abundantemente claro que o sistema internacional tem sido comprovadamente insatisfatórios a respeito de muitos de seus objetivos centrais como crescimento econômico sustentável, erradicação da pobreza, segurança humana, promoção de valores, prevenção de conflitos e muitos outros”, completam.

O tom do discurso contrasta com o papel exercido pelo Fórum Econômico Mundial por muitos anos. Reunião de presidentes e ministros de potências mundiais, além de representantes de multinacionais e organismos multilaterais – como o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial (Bird) etc. –, o encontro era o palco de debates de políticas neoliberais. A defesa da liberalização da economia e do Estado mínimo era uma das bandeiras mais presentes.

Foi como resposta ao fórum de Davos que ativistas do mundo inteiro iniciaram uma mobilização para discutir alternativas para combater o “pensamento único”. Desde sua criação, em 2001, em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial, com seus desdobramentos e edições por diferentes partes do mundo, sofreu mudanças.

Questões sociais e combate à pobreza ganharam importância, assim como a necessidade de mudanças na economia e de regulamentação do mercado financeiro, como forma de se prevenir novas crises. O tom contrasta com o padrão anterior, em que apenas o mercado livre interessava.

A pesquisa faz parte de uma série de publicações ligadas a questões religiosas e diálogos entre o mundo Ocidental e povos muçulmanos, iniciada em 2001 – após os atentados de 11 de setembro daquele ano. Intitulado “Fé e a agenda global: valores para a economia pós-crise” o caderno traz artigos de líderes religiosos, incluindo o brasileiro Frei Betto e o secretário geral da Caritas Internationalis.

O frei da ordem dos Dominicanos é um ativista da teologia da libertação, “figura carimbada” dos FSM e com relações com movimentos e partidos de esquerda. Foi opositor da Ditadura Militar brasileira e assessor especial do presidente Lula. Lesley-Anne Knight, da Cáritas Internationalis, comanda a rede ligada à Igreja Católica que promove ações em defesa dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável, muitas delas ligadas a associações e cooperativas de agricultura familiar.

A íntegra do relatório está na página do Fórum Econômico Mundial.

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