Rio+20 divide-se entre aqueles que veem o copo ‘meio cheio’ e ‘meio vazio’

Consenso entre países emergentes e representantes da sociedade civil dá-se na discordância em destinar a bancos valores imensamente maiores que os discutidos na Rio+20 e negados por países desenvolvidos para um mundo mais sustentável

Rio de Janeiro – Com os documentos apresentados, críticas de um lado, elogios de outro, além dos que preferem tratar com ceticismo os resultados da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que terminou ontem (22) no Rio de Janeiro, surgem agora as posições multilaterais sobre os resultados.

Representantes da sociedade civil avaliam que os acordos feitos na Rio+20 não representam, na verdade, um fracasso, pois foi colocada nessa nova agenda a exposição dos problemas, entretanto, não foi medido o tamanho do problema. A posição é de Aron Belinky, do Vitae Civilis. “Os chefes de Estado não chegaram a falar à altura dos problemas que o planeta vem enfrentando. Eles citaram, mas não foi o suficiente. Eu vejo umas gotinhas no fundo do copo, mas nao o vejo cheio”, definiu Belinky, durante o último debate da Arena Socioambiental, promovida pelo governo federal, paralelamente à Rio+20.

Em contrapartida, o diretor-geral do orgão das Nações Unidas para Alimentação (FAO), José Graziano, defendeu a visão do “copo cheio”. Ele afirmou que quem defendeu o avanço dos temas da Rio+20 foram aqueles chamados de países de Terceiro Mundo. “Nós conseguimos incluir o combate à fome, erradicação da pobreza e o reconhecimento do direito à alimentação, entre os direitos básicos da cidadania”, afirmou Graziano. Ele reconheceu que não houve acordo sobre o que é sustentabilidade, nem o que é economia verde, porém, todos presentes na conferência sabiam  que o “futuro é verde”.

A ministra de Desenvolvimento Social, Tereza Campelo, relembrou que no período da ECO92, no início dos anos 1990, o mundo discutia e aplicava o modelo neoliberal, cuja agenda social era interpretada apenas como um custo. Campelo alertou para a possibilidade de que o debate do custo social volte à tona, por conta da crise que alguns países desenvolvidos passam, principalmente os europeus. “A crise é um momento em que muita gente vai fazer com que esse debate volte. Hoje sabemos que a inclusão nao só tem de andar junto com a questão ambiental, mas também é o momento de reconhecer que o social é o caminho para o desenvolvimento econômico”, ressaltou.

O lamento generalizado no debate deu-se na questão do resgate financeiro dos bancos europeus que movimentaram trilhões para que a economia de alguns países, principalmente Itália e Espanha, não entrasse em colapso. A crítica foi feita por considerar que esses mesmos países, incluindo os Estados Unidos, negam-se em investir fortemente no desenvolvimento sustentável e no futuro do planeta, priorizando bancos em lugar da sociedade.

Graziano disse que ao participar e discutir junto aos países do G20, que representa o grupo de 20 países mais ricos do mundo, no início da semana, no México, 90% do tempo das discussões foram direcionados apenas a solucionar o resgate dos bancos espanhóis. Os 10% restantes do tempo dividiram-se entre todos os outros assuntos relacionados na pauta, incluindo a questão da segurança alimentar, objeto da entidade que ele representa, a FAO.

Belinky foi mais enérgico: “Fala-se em dar 0,7% do PIB mundial para a sustentabilidade. Fala-se em direcionar 30 bilhões de dólares para fundo de ajuda a países menos desenvolvidos. Agora quando fala-se em 18 trilhões para salvar bancos, o dinheiro aparece de todos os lados”, criticou.

Sobre o resultado da Rio+20 e a agenda que será aplicada de agora em diante, Aron Belinky destacou a necessidade de as Nações Unidas estruturarem um órgão de governança para que a sociedade civil, o empresariado e mais outros setores da sociedade possam também falar em pé de igualdade com os chefes de Estado. “A Rio+20 não é um fracasso. O que vai precisar daqui pra frente é muita vontade política, pois o processo oficial não vai sair sozinho do papel”, concluiu.