Veja fez parte da engrenagem de Cachoeirae tem que ser investigada

Causa estranheza alguns parlamentares quererem blindar a revista Veja de qualquer colaboração com as investigações da CPI

Nesta quinta-feira (17) deve ser apresentado requerimento para convocação do jornalista Policarpo Júnior, da revista Veja, para depor na CPI do Cachoeira.

A CPI tem a função de compreender o esquema criminoso para desmantelá-lo. Está claro que, em alguns casos, havia um ciclo do crime que passava por desalojar pessoas de cargos, que representavam obstáculos para a organização criminosa, com o objetivo ou expectativa de que o sucessor no cargo pudesse ser cooptável, ou pelo menos mais dócil aos interesses da turma de Cachoeira. E este ciclo se fechava com o elo das reportagens na revista Veja, produzidas por Cachoeira ou seus arapongas.

Logo é impossível parlamentares alegarem que investigar a revista foge do foco da CPI. Sem a revista, o ciclo do crime não fecharia, em alguns casos.

A revista, em sua defesa, pode até alegar que foi usada de forma involuntária. Só não pode se negar a contribuir com a CPI para debelar uma organização criminosa, pois se não colaborar soa como confissão de que é integrante. Aliás tem sido este o comportamento da revista ao se colocar indevidamente como vítima de suposto cerceamento à liberdade de imprensa.

E isso nada tem a ver com cercear a liberdade de imprensa. Pelo contrário, a revista continua livre para publicar o que bem entende, e o jornalista Policarpo Júnior poderá usar até a audiência na CPI para exercer a liberdade de expressão em sua plenitude. O mesmo ocorre com o dono da revista, Roberto Civita.

Se o jornalista apenas exerceu seu ofício, não há por que espernear. Na verdade, deveria ser uma honraria contribuir com uma CPI que procura desmantelar uma organização criminosa com ramificações no poder público. Os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washington Post, certamente não se oporiam a depor na comissão do Senado que investigou o Watergate. Falariam sobre quaisquer fatos que tivessem conhecimento, só não diriam quem contou, para preservar a fonte que exigiu anonimato.

Por isso, parlamentares membros da CPI que votarem contra a convocação do jornalista e do dono da revista, só poderão ter interesses escusos. Se não querem investigar um elo da corrente da organização criminosa, é porque não querem investigar todo o esquema e, em vez de investigadores, talvez seja melhor passar para o lado de investigados, já que a bancada de Cachoeira pode ser maior do que os nomes já vazados. Nas interceptações telefônicas, nem todas foram analisadas e transcritas, e mesmo nas transcritas, ainda tem muitos HNI (homem não identificado) para serem reconhecidos.

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