Para a oposição, requentar a campanha de 2006 vai ser um tiro no pé

O cenário para 2014 não é muito promissor para a oposição tucana. Junto a seus aliados DEM e PPS, o PSDB saiu encolhido das eleições municipais. A aposta no julgamento […]

O cenário para 2014 não é muito promissor para a oposição tucana. Junto a seus aliados DEM e PPS, o PSDB saiu encolhido das eleições municipais. A aposta no julgamento do chamado “mensalão” como cabo eleitoral não produziu os efeitos desejados e legenda viu crescer o principal oponente, o PT, juntamente com outros partidos da base governista, como o PSB. E pior, criou uma armadilha para si mesma, afinal sobrou agora o “mensalão” tucano a ser julgado, justamente aquele que atinge sobretudo o núcleo mineiro do partido, aquele que pretende viabilizar Aécio Neves como presidenciável. Corre o sério risco de chegar em 2014 como vidraça. Ainda que funcionem os esforços tucanos para atrasar o julgamento e levá-lo à prescrição, a opinião popular deverá refletir nas urnas.

Pelo noticiário dos jornais e revistas declaradamente alinhados com o tucanato, a estratégia para desviar as atenções da bola da vez – o “mensalão” tucano – é pautar o noticiário negativo em torno do nome do ex-presidente Lula, com especulações pouco acreditáveis sobre uma oferta de delação premiada por Marcos Valério, quando se sabe que as relações do empresário com os petistas e com o ex-presidente foram exaustivamente investigadas.

Os segredos guardados por Valério, não revelados ao Ministério Público, foram justamente no intervalo entre os dois mensalões (o do PSDB e o do PT), entre 1999 e 2002, quando as agências de Valério ganharam os principais contratos com no governo federal.

É difícil imaginar que aquele mensalão de 1998 para a campanha de Eduardo Azeredo (PSDB), não tenha funcionado em 2002 na campanha de Aécio Neves (PSDB) para governador, e para o então candidato a presidente José Serra, inclusive já tendo sido contatado que Pimenta Veiga, ex-coordenador da campanha de Serra em 2002, recebeu R$ 452 mil das empresas de Valério, explicados como honorários advocatícios; e que um sócio de Valério, Cristiano Paz, teve registrados 37 telefonemas para o Comitê Financeiro de Campanha de José Serra.

Essa tentativa de forçar a pauta em um noticiário que seja negativo para o ex-presidente tem dupla função. A primeira é criar as condições para um golpe nos moldes paraguaio, através do tapetão do Judiciário, levando ao impedimento político do ex-presidente, eliminando-o como alternativa de candidatura, e anulando-o como cabo eleitoral em pleitos futuros. A segunda é a velha estratégia do “sangramento” tentada desde 2005, ou seja, buscar desgastar o ex-presidente com um bombardeio de notícias negativas, para em seguida apontar as baterias para Dilma Rousseff.

Porém, ao escolherem esse caminho, os tucanos cometem duplo erro. O primeiro é que o tempo é curto para um golpe contra o ex-presidente e a presidenta até 2014. Ainda que se conseguisse produzir uma crise política através da judicialização e da mídia, as eleições repetiriam o ambiente de confronto de 2006. E hoje, tanto Lula, quanto Dilma são muito mais populares que naquela época. 

Além disso, caso uma crise política chegasse a ser produzida no governo Dilma, haveria a possibilidade de vários partidos da base governista se debandarem para a oposição, a ponto da reeleição da Presidenta ficar ameaçada. Fala-se muito do nome do governador Eduardo Campos (PSB) como suposto aglutinador de um movimento destes. Neste caso, sempre há a possibilidade do próprio ex-presidente Lula voltar a ser o candidato da base governista, e com sua popularidade imbatível dissuadir qualquer debandada.

Afinal poucos candidatos a governador, senador e mesmo a presidente estarão dispostos a ir às urnas em 2014 ao lado da oposição, repetindo o mesmo enfrentamento fracassado de 2006. Além disso, se um líder como Lula viesse a disputar uma eleição casada com a de governador, de senadores e deputados, a possibilidade de eleger mais governadores e parlamentares aliados seria maior, o que enfraqueceria qualquer projeto do próprio Eduardo Campos para 2018, além de queimar seu capital político construído aliado a Lula, se viesse a se apresentar como candidato de oposição. Ele teria mais chances se conseguisse se projetar como protagonista nacional aliado a Dilma e Lula, até 2018.