Gurgel faz papel de líder de oposição em horário nobre da TV de Jô Soares

O Jornal Nacional mostrou na edição da quarta (9) o Procurador Geral da República (PGR), Roberto Gurgel (aliás, teve gente que achou que a Globo estava usando o Jô Soares […]

O Jornal Nacional mostrou na edição da quarta (9) o Procurador Geral da República (PGR), Roberto Gurgel (aliás, teve gente que achou que a Globo estava usando o Jô Soares para falar de mensalão e atacar o PT…)

Gurgel era questionado pela reportagem sobre críticas de membros da CPMI do Cachoeira, que buscam explicações sobre por que ele, digamos assim, sentou em cima da Operação Vegas da Polícia Federal, desde 2009, e não abriu inquérito para investigar o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), e outros parlamentares, cujos malfeitos já apareciam naquela época.

Gurgel respondeu como respondem os líderes da oposição demotucana e os editores da revista Veja. Depois de falar sobre “estratégia de investigação”, disparou: “… Eu já disse e repito: uma das possibilidades é que isso parta de pessoas que estão muito preocupadas com o julgamento do mensalão que deverá acontecer proximamente”.

O PGR respondeu como costuma responder José Serra quando cobrado por escândalos envolvendo o seu nome; diz que é tititi e trololó petista, além de classificar as evidências contra si de “lixo”, como fez com o livro de Amaury Ribeiro Jr, A Privataria Tucana.

Além de dissimular, a resposta de Gurgel tem um agravante. Falada no telejornal de maior audiência do Brasil, cairia bem na voz de um líder partidário do PSDB ou do DEM, mas nunca na voz de um Procurador-Geral da República, cuja compostura recomenda se conter para manter o posicionamento que dele se espera: a neutralidade. 

Se ele pensa diferente, deveria se licenciar do Ministério Público e se candidatar ao parlamento pelo DEM ou pelo PSDB, como já fez outro ex-catão da República, Demóstenes Torres.

Sua declaração partidarizada só faz aumentar a necessidade de a CPMI ouvi-lo, pois reforçou a ideia de atuação conforme simpatias partidárias. A Procuradoria seria rápida e ágil para processar membros de alguns partidos e, no mínimo, lenta para processar políticos de outros, em geral os da elite demotucana.

Detalhe: ao que consta, nenhum membro da CPMI é réu no processo do chamado “mensalão”, como Gurgel sugere em sua declaração em que assume papel de líder de oposição. E parlamentares de oposição aos petistas como Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Onix Lorenzoni (DEM-RS), também cobram de Gurgel respostas convincentes, e não “morrem de medo” do “mensalão”.

O senador Pedro Taques (PDT-MT), que é mais independente do que governista, também é procurador de carreira, e não entendeu que “estratégia de investigação” foi essa, optando pelo engavetamento. Ele também cobra explicações convincentes.

Gurgel diz que não pode, legalmente, ser testemunha em uma CPI a portas fechadas, mas se meteu a dar seu testemunho no Jornal Nacional para o Brasil inteiro, sobre outro processo que promove, o “mensalão”?

Se não pode comparecer como testemunha, como ele afirma, que seja convocado na condição de investigado. Afinal, o que se deseja é apurar que procedimentos foram adotados de forma completamente fora do normal, do lícito e do legal, a respeito da Operação Vegas.