A missão da CPI: desmontar o POC

Partido político é um grupo organizado legalmente para chegar ao poder (numa definição simplificada). Assim, a forma de atuação de Carlinhos Cachoeira e sua organização, se formos ver bem, passou […]

Partido político é um grupo organizado legalmente para chegar ao poder (numa definição simplificada). Assim, a forma de atuação de Carlinhos Cachoeira e sua organização, se formos ver bem, passou a ser quase um partido político. No mau sentido, ilegal, informal e atuante nos subterrâneos.

Vejamos:

Tinha o objetivo de eleger bancadas de parlamentares e governantes. Daí, indicava nomeações para continuar na “base de apoio” de governos afins. Fazia disputas de poder, seja com fogo-amigo para quem fora aliado e tornara-se descartável, ou fazia oposição para derrubar adversários e conquistar espaços de poder.

Até aí poderia simplesmente registrar na Justiça Eleitoral e atuar como tantos outros partidos ditos fisiológicos (sem ideologia, com interesses apenas corporativos). O problema é que os objetivos do “partido” era atingir o poder para cometer crimes lucrativos, por isso seria, digamos, um POC (Partido da Organização Criminosa).

O POC buscava entrar nos governos para nomear pessoas em cargos-chave, que lhes facilitassem negociatas com a organização criminosa, beneficiando empresas da turminha.

Outras nomeações de interesse eram na polícia, no Ministério Público e no Judiciário, para ficarem imunes à investigação de seus crimes. O POC usava espionagem ilegal e criminosa como método de conquista de espaço político, de cooptação, chantagem e suborno. Recorria à dossiês – caluniosos ou não – para destruir adversários, e para isso usava seus canais de porta-vozes em setores da imprensa que atendiam às causas do POC.

O grande desafio da CPI não é fazer o mesmo que a Polícia Federal e o Ministério já fizeram e continuarão a fazer com os desdobramentos em curso. Não deve ser o foco da CPI enquadrar cada um dos membros da organização criminosa nos devidos artigos do código penal que infringiram. Para isso existe o Ministério Público.

A grande missão da CPI é entender, mapear, desbaratar e conter essa grande estrutura entrelaçada do POC. Por isso o mais importante para a CPI descobrir e esclarecer é o que ainda não está claro: o grau de envolvimento da organização criminosa com setores do Ministério Público e do Judiciário, além do real papel de setores da imprensa na tática da organização criminosa. Por exemplo: uma determinada revista seria membro do comitê central do POC? Seria militante do POC? Teria apenas afinidade corporativa com o POC?

Políticos e empreiteiros envolvidos todo mundo sabe o papel que desempenham neste tipo de organização: corruptores e corruptos. Basta à CPI acompanhar o trabalho do Ministério Público para não deixar engavetar nada, porque com inquéritos já em andamento, os procuradores andarão sempre na frente dos parlamentares, no que diz respeito a denunciar criminalmente governadores, políticos e empreiteiros.

Mas se a CPI não desbaratar o POC e não fizer reformas nas leis que contenham estas organizações, o POC continuará existindo nos subterrâneos com outros membros. Rei morto, rei posto. Hoje Cachoeira chegou a influir regionalmente em contratos de estados com uma grande empreiteira. Amanhã outro Cachoeira poderia vir a influir em contratos do pré-sal, de defesa das Forças Armadas, enfim colocando a própria nação sob governo do POC se houver um outro Demóstenes Torres ou, quem sabe, talvez até chegar à Presidência da República.