A segurança na USP e o uso do espaço

Pouca iluminação, baixa utilização do espaço e grandes distâncias tornam a cidade universitária um local inseguro (Foto: Google Maps) No dia em que a Polícia Militar prendeu cerca de 70 […]

Pouca iluminação, baixa utilização do espaço e grandes distâncias tornam a cidade universitária um local inseguro (Foto: Google Maps)

No dia em que a Polícia Militar prendeu cerca de 70 estudantes da Universidade de são Paulo por conta da invasão do prédio da reitoria, o assunto dominou as redes sociais e os portais de notícias. A polêmica em relação à truculência da polícia e ao uso de drogas no campus ofuscou um pouco a discussão do tema que gerou todo o imbróglio: a segurança.

O debate sobre a segurança no campus voltou à tona em maio deste ano, quando o estudante Felipe Ramos de Paiva foi morto em uma tentativa de assalto. Houve protestos de estudantes, que pediam melhores condições de segurança. O Centro Acadêmico da Faculdade de Economia e Administração, onde Felipe estudava, entregou uma carta à reitoria em que pediam a melhoria da iluminação e um correto diagnóstico dos problemas de segurança no campus. Como resposta, o reitor João Grandino Rodas assinou em setembro um convênio com a PM para aumentar o policiamento da USP. Vale notar que a presença da polícia não fazia parte dos pedidos dos alunos. Não houve, no entanto, qualquer movimento para tornar o ambiente da cidade  universitária mais seguro.

Crimes na USP não são novidade. Qualquer geração de estudantes que tenha passado pelo campus da capital sabe que assaltos e estupros sempre fizeram parte da preocupação dos uspianos. A causa também é conhecida: com um território extenso (praticamente um bairro inteiro), pouco ocupado e mal iluminado, o local é propício a ataques criminosos. 

A configuração territorial da USP é herança de um planejamento autoritário. Compartimentar e dividir os alunos em unidades distantes umas das outras seria uma forma de evitar ‘distúrbios’. “O modelo urbanístico do campus, segregado, unifuncional, com densidade de ocupação baixíssima e com mobilidade baseada no automóvel é o mais inseguro dos modelos urbanísticos, porque tem enormes espaços vazios, sem circulação de pessoas, mal iluminados e abandonados durante várias horas do dia e da noite”, afirma a urbanista Raquel Rolnik. Quase três décadas depois, esse modelo ainda não foi superado.

Os exemplos de dificuldades são muitos. Os ônibus circulares, por exemplo, passam em intervalos muito grandes, fazendo com que muitos estudantes e funcionários caminhem até seu destino. A saída de pedestres que leva à estação Cidade Universitária da CPTM, que fica fora do campus, é tão escura que pode confundir os não-iniciados no trajeto. Os estacionamentos são escuros. 

É, portanto, um erro achar que a polícia tem condições de garantir a segurança na USP. Os problemas são de outra natureza e não estão sendo levados a sério pela própria universidade. Apenas a melhoria da iluminação em todo o campus serviria para diminuir a sensação de insegurança de maneira importante. Outras ações para integrar as atividades no local de forma que os espaços não fiquem vazios são necessárias. Por que não voltar a abrir o uso do campus àqueles que não fazem parte da comunidade USP? Hoje, após as 20h só se entra com apresentação da identificação da universidade. A presença de corredores e ciclistas é uma maneira de ocupar o espaço. Isso pode beneficiar tanto a própria USP como os moradores da região. A USP tem potencial para servir de área de lazer para o Butantã, e na verdade isso acontecia no passado, mas aos poucos o acesso foi ficando restrito. 

Em resumo, o que traz segurança para um espaço, seja ele uma cidade ou uma praça, não é a presença de polícia, mas o seu uso pelas pessoas. Quanto mais gente na rua, menor a oportunidade para ocorrerem crimes. Na USP, sugestões de soluções para o problema não faltam. Pena que o reitor tenha adotado apenas aquela que lhe traz menos trabalho.

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