Primeiro álbum de Jards Macalé é relançado com vários extras

O experimentalismo original de Jards Macalé (Divulgação) Em 3 de março, o cantor, ator e compositor carioca Jards Anet da Silva, mais conhecido como Jards Macalé – apelido herdado do […]

O experimentalismo original de Jards Macalé (Divulgação)

Em 3 de março, o cantor, ator e compositor carioca Jards Anet da Silva, mais conhecido como Jards Macalé – apelido herdado do pior jogador de futebol do Botafogo em sua infância –, completou 70 anos. Para comemorar, o selo Discobertas relança seu primeiro trabalho: o compacto Só Morto, lançado em 1970 e que conta com quatro canções – Soluços, O Crime, Só Morto (Burning Night) e Sem Essa – todas marcadas pela linguagem musical experimental que daria vários frutos ao longo daquela década.

Produzido pelo próprio Jards Macalé e por Carlos Eduardo Machado, o álbum é aberto pelo rock Soluços: “Quando você me encontrar / Não fale comigo, não olhe pra mim / Eu posso chorar / E quando eu choro eu tenho soluços / E os soluços estragam minha garganta / E além disso eu uso lenços de papel / Eles se desfazem quando molham / Meus olhos ficam vermelhos e irritados / Eu ainda não comprei meus óculos escuros”.

Depois vem a mais soturna O Crime, parceria com José Carlos Capinam, que remete à sonoridade dos mariachis mexicanos, graças principalmente à percussão do craque Naná Vasconcelos. Há também duas parcerias com Duda: a balada experimental Só Morto (Burning Night), que se tornou a faixa mais conhecida do disco; e a romântica à la Roberto Carlos, Sem Essa: “Olha, não é nada disso / É fácil entender / Ela só veio para me dizer adeus / Mas o que eu queria mesmo / Era não ter mais medo de me comover / Mesmo assim fiquei pensando / Que a gente podia viajar / E fazer um álbum de fotografias / Pra depois queimar, lembrar, queimar”. Ela bem que merecia ser gravada por um desses ótimos artistas da nova geração, como Céu, Marcelo Jeneci, Laura Lavieri e Tulipa Ruiz, entre outros.

Em todas as faixas, Jards Macalé, que toca violão e é responsável pelos arranjos, é acompanhado pelo experimental e emblemático Grupo Soma, formado por Ricardo Peixoto (guitarra), Jaime Shields (guitarra), Bruno Henry (baixo) e Alírio Lima (bateria). Há também a participação de Zé Rodrix no piano e no órgão. Esses músicos são responsáveis por dar uma sonoridade especial ao álbum, que se, por um lado, hoje pode soar um pouco datado; por outro, cria uma identidade inconfundível.

O álbum conta ainda com dez faixas bônus. O clássico Gotham City, outra parceria com José Carlos Capinam e um dos maiores clássicos de Jards Macalé, aparece na versão do Festival Internacional da Canção de 1969, quando é fácil perceber o impacto que deve ter provocado na ocasião; e de um show realizado no Rio de Janeiro, em 1973. Dessa apresentação, também aparecem Poema da Rosa, parceria com o dramaturgo Augusto Boal; Let’s Play That, clássico composto com Torquato Neto; Revendo Amigos e Anjo Exterminador (mesmo título de um filme famoso do cineasta espanhol Luis Buñuel) e Rua Real Grandez, as três assinadas com Waly Salomão; e Orora Analfabeta, de Belizário Gomes e Waldeck Macedo. Há também uma versão de Só Morto e de Let’s Play That registrada num show realizado no Espírito Santo, em 1970.

Portanto, o CD Só Morto (Burning Night) supera a importância do registro histórico, numa época em que o experimento e a provocação eram uma forte tônica na música brasileira mais alternativa, mas revela um artista que esbanjava uma vitalidade impressionante em cima do palco e também nos estúdios. Não é à toa que ele foi rapidamente associado com a imagem de artista maldito e irreverente, como grita na faixa-título. O complemento perfeito deverá chegar aos cinemas brasileiros nos próximos meses. Trata-se do documentário-poético Jards, de Eryk Rocha.

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