Oscar 2012 valoriza o clássico e a França ao premiar ‘O Artista’

“O artista”, grande vencedor das principais categorias do Oscar 2012, que homenageia o próprio cinema em filme mudo e preto-e-branco (©divulgação) Durante 100 minutos, um filme mudo e em preto […]

“O artista”, grande vencedor das principais categorias do Oscar 2012, que homenageia o próprio cinema em filme mudo e preto-e-branco (©divulgação)

Durante 100 minutos, um filme mudo e em preto e branco retrata a passagem do cinema silencioso para o sonoro por meio de uma história de amor de dois atores – ele em decadência e ela em franca ascensão. O que se houve é uma belíssima trilha musical e alguns segundos de som. Nada mais do que isso. Algo que poderia soar inimaginável para o cinema do século 21, mas que o talento do diretor Michel Hazanavicius e do ator Jean Dujardin fizeram de “O Artista” a grande sensação do cinema mundial e o grande vencedor do Oscar 2012 – na cerimônia realizada na noite do domingo (26), em Los Angeles.

“O Artista” venceu em cinco categorias das dez a que concorria. Mas levou o que é mais importante para casa – melhor ator, diretor e filme, além de trilha sonora e figurino. Prova de que os membros da denominada academia cinematográfica dos Estados Unidos ficaram encantados por um filme que, acima de tudo, valoriza o passado do cinema e sinaliza para o fato de que ainda há público interessado em lotar as salas de exibição em busca de algo que seja muito mais profundo e significativo do que um mero entretenimento.

Também chama bastante atenção o fato de tratar-se de uma produção majoritariamente francesa. Assim como os discursos, tanto de Hazanavicius como de Dujardim, que prestaram homenagens a dois monstros poucas vezes lembrados do cinema: o diretor Billy Wilder, responsável por clássicos como “Quanto Mais Quente Melhor”, “Crepúsculo dos Deuses”, “Irma La Douce” e “Farrapo Humano”; e o ator Douglas Fairbanks, que imortalizou no cinema heróis como Zorro, Pirata Negro, O Homem da Máscara de Ferro e Robin Hood. Algo bastante sintomático, num ano em que o cinema perdeu uma das últimas divas de sua história, Elizabeth Taylor.

Não se trata aqui de apontar “O Artista” como um merecido e justo vitorioso. Afinal, ele concorria com pelo menos outros dois fortíssimos candidatos, que também se voltam para o passado e tem a França como foco. “A Invenção de Hugo Cabret”, de Martin Scorsese, que presta uma homenagem ao ilusionista francês, um dos pioneiros do cinema, Geórges Méliès – a obra foi premiada com melhores efeitos visuais, edição de som, mixagem de som, direção de arte e fotografia; e “Meia-Noite em Paris”, premiado como melhor roteiro original para Woody Allen, que, como sempre, faltou na cerimônia.

Trata-se sim de uma prova cabal de que, no melhor ano do Oscar, pelo menos na última década, Hollywood mostra-se realmente preocupada com os destinos do cinema, não só em termos de produção, mas também com relação aos potenciais de exibição, num momento em que perde cada vez mais espaço para a exibição doméstica. Não há dúvidas de que “O Artista”, “A Invenção de Hugo Cabret” e “Meia-Noite em Paris” ganham muito mais força se exibidos na tela grande. 

No mais, a festa confirmou os esperados prêmios para a atriz (que já merecia ser hours-concours) Meryl Streep, pela atuação como Margareth Tatcher em “A Dama de Ferro”; e de melhor roteiro adaptado para “Os Descendentes”, em que o ator George Clooney precisa cuidar das duas filhas adolescentes por conta do estado terminal da mãe delas.

O Brasil, mais uma vez, ficou no quase. Únicos representantes do país na premiação, Carlinhos Brown e Sergio Mendes, que concorriam na categoria “canção original” viram a estatueta parar nas mãos dos colegas responsáveis pelo tema principal de “Os Muppets”.

Detalhe da cerimônia foi o apresentador Billy Cristal, que apareceu discretamente, exceto pela constrangedora abertura, em que contracenou com Tom Cruise e Justin Bieber.

Confira abaixo todos os vencedores da noite.

Filme – O Artista
Diretor – Michel Hazanavicius – O Artista
Ator – Jean Dujardim – O Artista
Atriz – Meryl Streep – A dama de ferro
Ator coadjuvante – Christopher Plummer – Toda forma de amor
Atriz coadjuvante – Octavia Spencer – Histórias Cruzadas
Filme em língua estrangeira – A separação (Irã)
Animação – Rango
Documentário (longa-metragem) – Undefeated
Roteiro adaptado – Os descendentes
Roteiro original – Meia-noite em Paris
Fotografia – A Invenção de Hugo Cabret
Direção de arte – A Invenção de Hugo Cabret
Figurino – O Artista
Maquiagem – A Dama de Ferro
Edição – Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
Edição de som – A Invenção de Hugo Cabret
Mixagem de som – A Invenção de Hugo Cabret
Efeitos Visuais – A Invenção de Hugo Cabret
Trilha Sonora Original – O Artista
Canção Original – “Man On Mupper”, de “Os Muppets”
Curta-metragem – The Shore
Documentário (curta-metragem) – Saving Face
Curta-metragem de animação – The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore

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