Álbum ‘Transa’, de Caetano Veloso, completa 40 anos e é relançado

Basta abrir a caixinha da versão remasterizada do álbum “Transa”, de Caetano Veloso, que acaba de chegar às lojas, para retornar 40 anos no tempo. A começar pelo CD, que […]

Basta abrir a caixinha da versão remasterizada do álbum “Transa”, de Caetano Veloso, que acaba de chegar às lojas, para retornar 40 anos no tempo. A começar pelo CD, que traz o selo da então gravadora Philips, azul com letras brancas. Depois pelo incrível projeto gráfico original, de Aldo Luiz, denominado “discobjeto”, que permite que o encarte seja transformado num objeto, por meio de dobraduras. O artista criticou a brincadeira, em entrevista dada ao “Jornal do Brasil” da época: “Como é que bota essa bobagem de dobra e desdobra, parece que vai fazer um abajur com a capa, e não bota a ficha técnica?”.

A crítica se devia principalmente a ausência dos nomes de Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacir Albuquerque e Áureo de Sousa, que cuidaram dos arranjos do álbum gravado em Londres, onde Caetano Veloso estava exilado desde 1969, e que foi lançado em janeiro de 1972, quando o artista obtém o direito de voltar definitivamente ao Brasil.

Macalé é o diretor musical, e toca violão e guitarra; Tutty Moreno e Áureo de Souza cuidam também de bateria e percussão. Há ainda o baixo de Moacir Albuquerque e a participação de Ângela Rô Rô, na gaita de “Nostalgia”.

O álbum é uma mistura das referências que Caetano Veloso assimilava na capital britânica, em contato com a modernidade do rock em ebulição, com a sonoridade brasileira, produzida não só como tentativa de afirmação de suas origens, mas também fruto da saudade de casa, a qual acabara de visitar em ocasião especial – a missa comemorativa do aniversário de 40 anos dos pais. A primeira canção “You Don’t Know Me” mistura balada com baião, inglês com português, com citação de “Reza”, de Edu Lobo.

“It’s a Long Way” segue na mesma pegada e se começa delicada vira praticamente uma canção caymmiana até retomar o ritmo calmo e doce do início. Há ali citações de “It’s a long and winding road”, dos Beatles, “A Lenda do Abaeté”, de Dorival Caymmi, e “Berimbau”, de Vinicius de Moraes e Baden Powell. Ela abre espaço para o clássico samba “Mora na Filosofia”, de Arnaldo Passos e Monsueto Menezes: “Eu vou lhe dar a decisão / Botei na balança / Você não pesou / Botei na peneira / Você não passou”.

A dançante “Nine Out Of Ten” faz referências ao reggae, com o qual Caetano Veloso entrou em contato em Portobello Road, uma rua bastante frequentada por estrangeiros com suas casinhas coloridas e que abriga um importante comércio alternativo. “Triste Bahia”, parceria com De Mattos, é um ácido repente nordestino em que a música combina totalmente com a letra extremamente cinematográfica. “Neolithic Man” introduz uma “paradinha”, em que a música é interrompida bruscamente para acentuar o efeito dramático da canção. E a pop rock “Nostalgia (That’s what rock’n’roll is all about)”.

“Transa”, portanto, é um clássico indiscutível e um dos álbuns mais amados por grandes nomes da música brasileira, que completa 40 anos, demonstrando permanecer extremamente atual e é relançado agora numa versão remasterizada, realizada por Steve Rooke, nos famosos estúdios Abbey Road, na capital britânica. É fácil notar como ele, com forte base antropofágica, influenciou tremendamente as gerações futuras, caso do movimento manguebeat dos anos 1990.

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