Sou privatizado. Se não posso falar disso, estou censurado

O quadro comparativo entre os três principais candidatos a prefeito de São Paulo que a Folha Bancária, jornal histórico do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, publicou […]

O quadro comparativo entre os três principais candidatos a prefeito de São Paulo que a Folha Bancária, jornal histórico do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, publicou na sua edição 5.592, em 4 de outubro, apenas reflete o que os representados da entidade sentem no seu dia a dia. Não há ali nenhuma mentira. Essa categoria tem alta escolaridade, o que é exigido pelos bancos, possui planos de saúde e, em parte, aposentadoria, além de consumir tecnologia, cultura e lazer.

Perguntados sobre seus principais problemas, os bancários respondem sobre o medo da demissão e os reflexos das privatizações e das fusões entre bancos. No âmbito da cidade, as respostas incidem sobre mobilidade urbana, com tantas horas perdidas em deslocamentos, enormes congestionamentos, metrôs e trens superlotados e poluição, causadores de forte estresse. O item segurança é também fonte de enormes preocupações e distúrbios emocionais, com foco nos atentados e assaltos às agências, com sequestros e mortes, além da segurança cotidiana nas ruas.

O candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra, esteve no centro das privatizações na condição de ministro do Planejamento do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Recentemente, o desvio de verbas para favorecer parentes e amigos de Serra, destinando recursos a contas bancárias abertas em paraísos fiscais, foi revelado pelo jornalista Amaury Ribeiro Jr, autor do livro A privataria tucana. Em São Paulo, tanto no estado como no município, o tucano não deu atenção suficiente para a mobilidade urbana e ainda desdenhou da segurança bancária. 

Por outro lado, a notória ausência de programa de governo de Celso Russomanno (PRB) e seu ataque ao Bilhete Único provocaram medo entre os bancários. Nos últimos dias, grupos de bancários em muitas agências discutiam o assunto e pediam mais informações ao sindicato e aos dirigentes sindicais, sabendo que essas questões seriam decididas nas eleições de domingo (7). 

Já o candidato petista, Fernando Haddad, realizou mais de 20 reuniões para discutir sua plataforma. Teve a humildade de procurar os sindicatos e demais representantes dos movimentos sociais para discutir propostas, que foram apresentadas em um consistente programa de governo. E nele estão destacados segurança bancária, segurança nas ruas e a mobilidade urbana.

Numa atitude de censura, José Serra recorreu à Justiça Eleitoral para suspender a veiculação da Folha Bancária. Seu argumento foi que o publicado “denegria” sua imagem e ainda que se tratava de uma doação do sindicato a uma candidatura, o que é proibido na lei. E a juíza, que provavelmente desconhece a realidade dos trabalhadores bancários, aceitou a censura e autorizou mais truculência com o uso da força policial para busca e apreensão, inclusive com autorização de arrombamentos, o que foi feito em sedes regionais do sindicato.

Sou um privatizado do Banespa. Então, se não posso dizer que Serra é o pai e, depois, o filho abonado da privataria, estou sendo censurado. Se o sindicato não pode alertar seus representados de que há ausência de programa e perigo para o Bilhete Único, também é censura. E cidadãos estarão induzidos ao erro.

Além disso, o sindicato não foi a um comitê de candidato e tampouco lhe ofereceu doação. Na verdade, a Folha Bancária fez um lúcido e esclarecedor quadro comparativo – aliás, nada mais que sua obrigação como praticante de um sindicalismo transparente. Daí a concluir que houve uma doação, é exagerar na decisão. Se Russomanno tem propostas vagas para a cidade, mais uma vez Serra comprova seu jeito autoritário e censor.

Paulo Salvador, coordenador da Rede Brasil Atual, dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, privatizado do Banespa, hoje Santander

 

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