Para colunista da Folha, Lula com tempo para pensar “pode ser perigoso”

Danuza Leão considera que o ex-presidente não tem o hábito de pensar, bem como o de ler, e sugere que ele tome 'aulas de digitação' para aprender a mexer em computadores

São Paulo – A colunista Danuza Leão, da Folha de S. Paulo, afirmou neste domingo (6) sentir muita tristeza pelo fato de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter de passar os “próximos três, quatro meses, sem poder fazer o que mais gosta e melhor sabe fazer, que é falar”.

Em texto para o caderno Cotidiano, ela aponta que Lula será forçado a fazer coisas que, ao que considera, não estão entre seus costumes cotidianos. “Com a recomendação de falar o menos possível, Lula vai ter muito tempo para pensar, coisa que não parece fazer parte dos seus hábitos; e para ele, que era levado sobretudo pelo instinto, pensar muito pode ser perigoso”, afirma, considerando que pensar sobre o que foi feito pode levar “a que se troque de pensamentos”. 

Na última semana, o ex-presidente anunciou que fora detectado um tumor em sua laringe, e que teria de se submeter a um tratamento quimioterápico. Logo em seguida explodiram comentários nas redes sociais que sugeriam que Lula deveria se tratar no Sistema Único de Saúde (SUS), público, e não no Hospital Sírio-Libanês, pelo qual optou. Alguns dos comentários indicavam que um hospital de alto nível não era lugar para um operário e outros desejavam a morte do líder petista. 

Neste domingo, após longas discussões, e inclusive manifestações de indignação de alguns colunistas da Folha em relação às atitudes preconceituosas contra Lula, Danuza firma artigo no qual supõe que o ex-presidente não está habituado à leitura e não sabe desempenhar tarefas básicas em um computador. “Ele não parece ter o hábito de ler, e só ver televisão, para um homem habituado a uma atividade intensa, é pouco”, aponta. “Se os efeitos da químio permitirem, seria o caso de Lula tomar umas aulas de digitação, e com alguma ajuda, que certamente não faltaria, escrever o livro de sua vida.”

Em setembro, ao conceder o título de honoris causa ao ex-presidente, o diretor da Sciences Po, um dos mais antigos e respeitados institutos de estudos políticos de Paris, sofreu uma série de perguntas de jornalistas brasileiros sobre o porquê da homenagem. Um questionava como a entidade poderia conceder a honraria, nunca antes dada a um latino-americano, a um senhor que se “orgulhava de nunca haver lido um livro”, informação que o próprio Lula desmentiu em reiteradas referências a leituras feitas ao longo dos anos. Uma repórter questionava: “Por que não Fernando Henrique Cardoso?”

Danuza, neste domingo, parte da construção do estereótipo em torno de Lula, feita ao longo de três décadas de informações nem sempre verdadeiras, para chegar às próprias conclusões. “Vou continuar ligada, vou continuar desejando que Lula saia dessa, vou torcer pelo Corinthians até que ele fique bom, pois isso vai lhe dar alegrias”, garante. “Será que religião nessa hora ajuda? Será Lula religioso? Não parece”.

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