mudanças climáticas

Secas são a grande ameaça da América do Sul nos próximos anos

Novo estudo aponta para riscos de estiagem prolongada no continente até o final do século. Amazônia é uma das regiões mais vulneráveis

Danilo Verpa/Folhapress
Danilo Verpa/Folhapress
Estudo confirma relatório da ONU. Relatora especial para redução de risco de desastres, Mami Mizutori, destacou que a seca pode ser a próxima "pandemia"

São Paulo – As secas na América do Sul devem ser mais frequentes e intensas até o fim do século. É o que diz estudo que reuniu diferentes entidades de todo o mundo aponta para o agravamento de crises climáticas no continente. O documento foi publicado na revista científica Earth Systems and Environment e contou, no Brasil, com apoio e desenvolvimento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

“Se as emissões de gases de efeito estufa (GEE) continuarem no patamar atual, a temperatura média na América do Sul pode subir até 4 ºC até o fim do século; em um cenário mais pessimista. Tornando os eventos climáticos extremos – como secas, inundações e incêndios florestais – mais frequentes e intensos na região”, afirma a entidade, em nota assinada por Elton Alisson, da Agência Fapesp.

O estudo reafirma tendência já notada em relatório especial das Nações Unidas. A representante especial da ONU para redução de risco de desastres, Mami Mizutori, destacou que a seca pode ser a próxima “pandemia”. Em seu levantamento, regiões da América do Sul aparecem como especialmente frágeis. “A seca está prestes a se tornar a próxima pandemia, e não existe vacina para curá-la”, disse.

Incertezas e dificuldades

Grande parte da região amazônica é apontada pelo estudo como propícia à redução no regime de chuvas. “As projeções feitas com os novos modelos climáticos apontaram que, dependendo do cenário, o sul da Amazônia, por exemplo, experimentará condição maior de seca”, afirma o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coautor do artigo, Lincoln Muniz Alves.

“As projeções indicam que a contribuição relativa dos totais mensais acumulados para a média anual de chuvas na região está diminuindo significativamente em alguns meses. Se antes chovia dez milímetros em um determinado mês, esse número caiu pela metade”, afirma o pesquisador. Essas alterações implicam em dificuldades para diferentes áreas da sociedade. “Isso tem impactos nos setores agrícola e de geração de energia, por exemplo, que fazem seus planejamentos com base nos volumes de chuvas”, completa.

No mundo

Mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global dão sinais preocupantes em outras regiões do planeta. No início do mês, por exemplo, regiões do Canadá apresentaram temperaturas recordes próximas à 50 graus. Também neste mês, no dia 1, a ONU confirmou a temperatura mais alta registrada na Antártica, 18,3 graus. “A verificação dessa temperatura máxima é importante porque nos ajuda a construir um quadro do tempo e do clima em uma das fronteiras finais da Terra”, disse o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas.

De acordo com o pesquisador, nos últimos 50 anos, a temperatura média da região subiu cerca de três graus. “Esse novo recorde de temperatura é consistente com a mudança climática que temos observado”, completa. O registro em questão foi verificado na Península Antártica, na estação de pesquisa Esperanza, da Argentina.