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Aproveitamento de resíduos sobe de 1,7%, com Kassab, para 6,5% com Haddad

Embora tenha mais do que triplicado nos últimos três anos, reciclagem de resíduos não atingirá meta da prefeitura; catadores dizem que passaram a atuar no processo e a ser ouvidos e temem retrocessos

César Ogata/Secom

Prefeitura construiu duas centrais mecanizadas de resíduos sólidos e uma central específica para lixo hospitalar

São Paulo – A prefeitura de São Paulo deverá reciclar 6,5% dos resíduos até o final do ano. Com isso, a atual gestão deverá chegar perto da sua meta, que é reaproveitar 10% do que coleta. Aparentemente tímidos, os percentuais apontam para um avanço na cidade, já que em 2012, na gestão de Gilberto Kassab, era de apenas 1,7%. A coleta seletiva é fundamental para isso, e de acordo com a Secretaria de Serviços, o trabalho está presente em toda a cidade. No entanto, menos da metade dos 96 distritos têm todas as ruas contempladas.

Para o secretário Alberto Serra, a gestão atingiu o objetivo de levar a coleta para todos os distritos. Hoje o serviço está em pelo menos uma rua de cada bairro. O próximo passo será universalizar dentro dos distritos. “Para isso, precisamos do envolvimento da população. As sacolinhas plásticas já dão recado sobre sua finalidade, para que devem ser utilizadas. Isso vai ajudar a aumentar a coleta, que vem crescendo, e tem potencial para crescer mais. A gente sabe que hábitos não se mudam de uma hora para outra”, diz.

Para atender à Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei Federal 12.305, de 2010, que determina a reorganização dos sistemas de gestão e manejo de resíduos nos municípios e reconhece o valor econômico e social dos resíduos –, a gestão planejava construir quatro centrais de triagem automatizadas, mas duas ainda não foram entregues.

Em junho de 2014, inaugurou a primeira, no bairro da Ponte Pequena, região central, capaz de processar 250 toneladas de resíduos por dia. No mês seguinte, entregou a segunda, em Santo Amaro, zona sul, com igual capacidade. “Com a capacidade instalada, é possível reciclar mais de 15%”, diz o secretário.

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Catadores

Na gestão anterior, de Gilberto Kassab, a coleta era feita totalmente pelas concessionárias. Atualmente, há cooperativas de catadores fazendo parte desse trabalho. Conforme a prefeitura, esses trabalhadores atuam em apenas 27 distritos, em praticamente toda a cidade.

Para os catadores, o trabalho que fazem é mais eficiente. “A gente recolhe e conversa com a população, numa ação de educação, conscientização da população”, afirma Valquíria Santos, da cooperativa do Grajaú e integrante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR). “A qualidade do nosso trabalho é reconhecida pelo poder público, mas muitas vezes trabalhamos em troca de migalhas, quando as concessionárias ganham milhões com seus contratos com validade de anos e anos. É uma briga desigual.”

Tanto que o custo da coleta é de apenas R$ 67 por tonelada, e o total de rejeito é de 20%, conforme a Aliança Resíduo Zero Brasil. Na coleta feita por compactador, o custo é de R$ 252 por tonelada, com média de rejeito de 50%. Na coleta por contêineres, a presença de rejeito é de 60% e o custo é de R$ 175 por tonelada.

Em carta a candidatos a prefeito em todo o país, o MNCR ressalta que 80% do lixo urbano é constituído de resíduos secos recicláveis e orgânicos e reivindica a universalização da contratação das organizações de catadores para prestarem serviços públicos de coleta seletiva, triagem, educação ambiental e destinação correta dos recicláveis secos e orgânicos, por meio das cooperativas e/ou associações, autogestionárias, formadas exclusivamente por catadores.

A gestão concorda com as cooperativas quanto à desigualdade de condições nessa disputa. “É preciso investir mais nas cooperativas, que precisam ter mais caminhões, para chegar a mais lugares. É preciso também capacitar e certificar mais, o que não é um trabalho fácil”, diz Serra.

Segundo a Aliança, na capital, apenas 10% das associações reconhecidas de catadores de materiais recicláveis são autorizadas a receber os produtos coletados pela prefeitura. É estimado em pelo menos 10 mil o número de catadores que trabalham de forma autônoma, considerada precária. Estão registrados no município 550 sucateiros e ferros-velhos.

Valquíria diz que um fundo para financiar o pagamento pelos serviços prestados não saiu do papel. No entanto, a gestão petista dialogou. “Fomos recebidos na prefeitura, o que não aconteceu antes”, conta. “A preocupação é que um novo prefeito venha interromper esse trabalho”, diz Valquíria, que está no setor há dez anos.

Fabio Arantes/Secomcoleta seletiva ecoponto haddad.jpg
Ecopontos aumentam captação de entulho, móveis e outros resíduos

Ecopontos

A meta de construir 84 novos espaços para entrega voluntária de pequenos volumes de entulhos, restos de material de construção, móveis, podas de árvores e recicláveis – os ecopontos – não foi atingida. Foram criados 36, totalizando 93 em operação.

De acordo com a prefeitura, a ampliação permitiu aumentar a quantidade de resíduos recebida, que saltou de 406.617 metros cúbicos, em 2012, para 541.051 metros cúbicos no ano passado.

A compostagem de resíduos orgânicos da poda de árvores e das 900 feiras livres existentes em São Paulo é outro projeto que avançou pouco – cerca de 22% do previsto. Foram definidas quatro áreas para a implementação das centrais, enquanto outros nove seguem em análise.

Em dezembro, a prefeitura inaugurou em Itaquera, na zona leste, a primeira unidade de tratamento de resíduos hospitalares, considerada a maior da América Latina. Até então, esses resíduos eram levados para tratamento em Mauá, no ABC paulista, com custo de R$ 1,40 por quilo. Com a central, o custo caiu pela metade. Uma segunda unidade está sendo construída no aterro Bandeirantes, em Perus, zona noroeste, e deverá ficar pronta ainda este ano.

Outra iniciativa, segundo a Secretaria de Serviços, é a participação numa usina termelétrica movida a biogás do aterro sanitário de Caieiras, para onde vai parte dos resíduos da capital. Inaugurada no último dia 16, a Termoverde Caieiras terá potência instalada de aproximadamente 30 megawatts, gerando energia limpa a partir de resíduos urbanos ali depositados. “Parte do lixo de São Paulo esta virando energia”, disse Alberto Serra.

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