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Com geladeiras, artistas fazem ‘monumento’ a Doria por congelar verba da cultura

Eletrodomésticos foram fixados na rua em frente à prefeitura para representar o 'iceberg gigante' que se tornou a atual gestão

Cris Faga/Fox Press Photo/Folhapress

Manifestantes carregavam “corações congelados”, entre várias outras intervenções criticando a gestão Doria

São Paulo – O protesto de segunda-feira (27) contra o congelamento de 43,5% das verbas públicas para políticas culturais da capital paulista por João Doria (PSDB), terminou com a construção de um monumento ao prefeito e ao secretário da Cultura, André Sturm: sete geladeiras foram fixadas em frente à sede da prefeitura, simbolizando o “iceberg” dos congelamentos da gestão. “Esse ato é poesia que se insurge contra o iceberg gigante que se tornou a prefeitura”, declamaram os manifestantes, em coro, enquanto projetavam imagens de uma geleira no prédio.

O ato foi pacífico e reuniu milhares de artistas e trabalhadores da cultura paulistana, reivindicando a liberação da verba e a retomada imediata dos programas da secretaria de cultura. Os manifestantes saíram do Teatro Municipal, na Praça Ramos de Azevedo, e se dirigiram para a Secretaria da Cultura, no Largo do Paissandu, centro da cidade. Lá, expuseram as geladeiras e cobraram que Sturm descesse para falar com eles, sem sucesso. Depois marcharam pela Praça da República para chegar à prefeitura.

Durante todo o ato, atores e atrizes fizeram performances teatrais, grupos de dança e artistas solo fizeram intervenções e artistas circenses mostraram seus talentos. Um grupo tinha “corações congelados” pendurados no peito. Poucos policiais acompanharam o protesto e não houve qualquer problema. Esse foi o primeiro grande protesto popular contra políticas implementadas pela gestão Doria.

No caminho, os manifestantes pararam no Teatro Municipal, onde Doria recebia o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), e o ministro da Educação, Mendonça Filho, para o lançamento do programa Nossa Creche. Os artistas cantaram uma música composta para o prefeito: “Escute aqui, senhor João Doria. Acaso sabe vossa senhoria? Cultura não é mercadoria!”, diz um trecho. E lançaram coros “Fora Doria”, para constrangimento dos convidados dele que chegavam ao local.

Desde o meio da tarde o local foi cercado com grades e viaturas da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Para o presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, Rudifran Pompeu, ainda que o evento explique as grades, o simbolismo é marcante. “Estas grades talvez sejam o melhor símbolo do que está acontecendo hoje na cidade. Os artistas recebidos no Teatro Municipal com grades, guardas e policiais. Como se estivéssemos sitiando o municipal”, lamentou. Também na sede da secretaria os portões foram fechados antes da chegada dos manifestantes.

Guilherme Stutz/Futura Press/Folhapress
Artistas fixaram geladeiras em frente à prefeitura contra o congelamento do orçamento

Entre os projetos e programas – muitos previstos em Lei Municipal – afetados pelo congelamento estão o Programa de Iniciação Artística (PIÁ) e Vocacional; os fomentos à dança e ao teatro das periferias, ao circo; Jovem Monitor Cultural; o Programa de Valorização das Iniciativas Culturais (VAI e VAI II); além da programação de atrações nos equipamentos públicos, tais como bibliotecas, centros culturais, Casas de Cultura e Centros Educacionais Unificados (CEUs).

No caso das bibliotecas, para as quais a atual gestão apresentou um projeto de revitalização, algumas propostas na verdade já existem, como os saraus de poesia nos espaços. A maior parte dessas ações é realizada nas periferias da capital, com crianças e jovens que não têm outras possibilidades de acesso à formação cultural.

Para Pompeu, a suspensão de tantos programas, muitos dos quais realizados há anos, é um grave retrocesso na cultura da capital paulista. “Em nenhuma outra gestão ocorreu algo assim. Isso se aproxima de um desmanche total das conquistas de quase duas décadas. Se querem fazer uma gestão melhor do que a anterior, façam mais, mas não destruamo que está sendo feito”, disse o presidente da Cooperativa, lembrando que o ato não tem objetivos partidários. “Queremos que se cumpra a lei”, completou.

Nas redes sociais, o secretário afirmou que o congelamento foi um “engano”. “Desde que se deparou com esta situação a Secretaria vem lutando diariamente para conseguir o descongelamento destes valores. Desde o início do ano já conseguiu descongelar cerca de R$ 30 milhões para essas atividades”, disse Sturm.

A próxima atividade da Frente Única – Descongela a Cultura Já, que organizou o ato, será uma reunião na Câmara Municipal, dia 4 de abril, às 19h. Segundo Pompeu, os artistas estudam ingressar com ações judiciais para questionar o descumprimento das leis municipais pelo prefeito. “Depois desse ato, o próximo passo é estudar as medidas que vão além da tentativa de diálogo. Ainda esperamos que a prefeitura reveja a decisão, mas, se isso não ocorrer, vamos tomar todas as iniciativas que pudermos”, afirmou.