Catadores querem inclusão na cadeia de materiais recicláveis durante Copa do Mundo

Evento, que ocorrerá em 12 capitais brasileiras, também é visto como oportunidade para alavancar reciclagem e aumentar transparência na gestão pública

São Paulo – A gestão de resíduos sólidos nos grandes eventos, inclusive a Copa do Mundo de 2014, é uma das principais expectativas de catadores de materiais recicláveis de todo o país. O tema foi debatido desta semana durante os três dias da Expoctadores, evento que reuniu em São Paulo centenas de catadores, além de empresas, gestores públicos e organizações da sociedade civil dedicadas ao tema da sustentabilidade.

“Nossa preocupação é que as embalagens e todos os descartáveis produzidos durante a Copa possam ser mais sustentáveis, contribuindo assim para a diminuição de resíduos para o meio ambiente”, afirmou à RBA Roberto Laureano da Rocha, membro da coordenação do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR). “Também buscamos nossa inserção na prestação desse serviço de recolha desses materiais, para destiná-lo de forma correta, impedindo que sejam encaminhados aos aterros sanitários ou lixões.”

Além de fonte de materiais reutilizáveis – e de renda para os catadores –, a Copa do Mundo também é vista como oportunidade para alavancar a reciclagem no Brasil, inclusive de um produto que não costuma figurar entre os campeões da coleta seletiva: o óleo vegetal. De acordo com um estudo realizado pelo Instituto Ibope por encomenda da organização ambientalista WWF, apenas 21% dos brasileiros atendidos pelo serviço se lembra de separar o óleo e enviá-lo para a reciclagem.

Vitrine

Segundo o especialista em reutilização de resíduos Vinícius Scaramel, nem mesmo os trabalhadores do setor têm consciência de que o óleo vegetal pode ser reciclado. “Normalmente, quando encontra uma garrafa plástica cheia de óleo na rua, o catador acaba esvaziando seu conteúdo pra ficar apenas com a PET”, conta, “muitas vezes sem saber que o litro de óleo vale mais do que o quilo do plástico nos postos de reciclagem.”

Mas não se trata apenas de dinheiro. Scaramel lembra que apenas um litro de óleo vegetal – aquele que jogamos na pia depois de fritar a mistura do almoço – é capaz de poluir até 25 mil litros de água. “O Brasil consome 1,6 bilhão e descarta 1,4 bilhão de litros de óleo por ano”, sustenta, com base em levantamento realizado pela Casa Civil da Presidência da República. “Apenas 160 milhões de litros são reciclados”  – em parte graças ao trabalho de catadores que já despertaram para a questão.

Scaramel representa um projeto chamado Bioplanet, que conta com apoio de instituições governamentais e empresariais, além de organizações de catadores, para atingir a meta de produzir no país 25 milhões de litros de biodiesel a partir de óleo vegetal reciclado até 2014. “A Copa será a vitrine para mostrar nosso trabalho”, propõe. Daí a ideia de colocar ônibus movidos com biodiesel reciclado para transportar os jogadores da Seleção até o estádio nos dias de jogos, quando há ampla cobertura da mídia mundial.

Transparência

A Copa do Mundo também é mote para o trabalho que o Instituto Ethos veio apresentar na Expocatadores. A entidade trabalha pela responsabilidade social das empresas e pela transparência da gestão governamental. E é transparência que a iniciativa “Jogos limpos dentro e fora dos estádios” pretende espraiar pela gestão das obras que estão sendo realizadas nas 12 cidades brasileiras que sediarão as partidas do principal torneio de futebol do planeta. “Queremos empoderar a sociedade para exercer o controle social, garantir a transparência na administração dos recursos e viabilizar melhores políticas públicas”, explica Felipe Saboya, que coordena o projeto pelo Instituto Ethos.

Talvez o maior objetivo da transparência seja evitar a corrupção. Por isso, o “Jogos limpos dentro e fora dos estádios” está firmando acordos com empresas líderes dos setores hospitalar, construção civil, energia e transporte para que primem pela integridade – sobretudo quando forem assinar contratos com o poder público. Outra estratégia é a elaboração de indicadores de transparência, que vão classificar periodicamente as cidades-sede de acordo com a rapidez, qualidade e quantidade de informação sobre a Copa que suas prefeituras disponibilizam à sociedade.

O ranking se apoia sobre a Lei de Acesso à Informação, que passou a vigorar em todo o país no último 16 de maio, e determina que todas as instituições públicas e governamentais devem prestar informações requeridas por quem quer que seja em no máximo 20 dias. Os primeiros resultados já saíram. “As cidades-sede mais transparentes até agora foram Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS)”, informa Saboya, destacando que ainda assim estão longe do ideial. “As demais capitais possuem todas nível muito baixo de transparência.”