Associação de moradores elogia tombamento da sede do DOI-Codi em SP

Mas deseja que a delegacia que funciona no local seja transferida para as redondezas, de forma a não reduzir a segurança do bairro

São Paulo – A Associação de Moradores e Amigos de Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, aprova o tombamento do prédio onde funciona o 36° Distrito Policial, entre as ruas Tutoia e Tomás Carvalhal. “Seria um marco”, disse à RBA Oswaldo Luis Baccan, presidente da entidade. Durante a ditadura (1964-1985), o edifício abrigou a sede do DOI-Codi, órgão de repressão política do regime militar. “O jornalista Vladimir Herzog foi executado ali em 1975. Temos de preservar a memória da nossa história. Por isso, gostaríamos do tombamento.”

Há um processo tramitando pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) para estudar a relevância do local para a história e cultura de São Paulo e do país. Como a RBAapurou ontem (29), os técnicos da instituição devem apresentar aos conselheiros um relatório sobre o tema em, no máximo, seis meses. Em audiência pública realizada pela Comissão da Verdade do Estado de São Paulo na Assembleia Legislativa, a vice-presidenta do Condephaat, Marilia Barbour, disse acreditar que não há razões para que a antiga sede do DOI-Codi não receba parecer favorável ao tombamento. “Os indícios são fortíssimos”, reconhece. Já a transformação do imóvel em museu ou memorial contra a tortura – como pedem entidades de direitos humanos – não diz respeito ao Condephaat. “Dependerá de outras instâncias da administração pública.”

Apesar de ser favorável ao tombamento do local, o presidente da Associação de Moradores e Amigos de Vila Mariana pondera que a delegacia que atualmente funciona no local deve ser transferida para algum endereço das redondezas. “Temos de deslocar essa delegacia para um local próximo, para que se mantenha a segurança da região”, ressalva, comemorando a possível abertura de um novo museu no bairro – que já conta com vários equipamentos culturais, como a Cinemateca e os museus do Ibirapuera. “Como cidadão, acho que seria bem relevante.”

Oswaldo Baccan lamenta, porém, que a maioria dos moradores ainda não esteja sabendo da iniciativa. O pedido de tombamento do 36º DP tramita publicamente pelo Condephaat desde maio, mas nem mesmo o Conselho de Segurança (Conseg) do bairro soube que a delegacia pode se transformar num memorial contra a tortura. “Estou no Conseg desde 2009 e não lembro de termos discutido o assunto”, atestou à RBA Alessandro Arzzoni, secretário do grupo que reúne periodicamente moradores e autoridades da região – inclusive o delegado de polícia. “Soube desse assunto agora que você está me falando.”

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