Na ONU, líder palestino diz que ‘chegou a hora de ganhar a liberdade’

Mahmoud Abbas confirma pedido ao Conselho de Segurança de reconhecimento formal de um Estado palestino independente

Presidente palestino, Mahmoud Abbas, em discurso televisionado para falar do pedido de reconhecimento como Estado na ONU (Foto: ©Mike Segar/Reuters)

Brasília – Em um aguardado discurso perante a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, confirmou nesta sexta-feira (23) que encaminhou pedido formal de reconhecimento de um Estado palestino independente, dizendo que “chegou a hora de seu povo “ganhar liberdade”.

“Em um momento em que o povo árabe afirma sua luta pela democracia (referindo-se à chamada Primavera Árabe), chegou a hora também da primavera palestina, a hora para a independência”, declarou Abbas, pouco depois de ter entregue formalmente ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, um pedido pela adesão palestina como membro pleno das Nações Unidas. Abbas disse que o reconhecimento internacional de um Estado palestino “seria a maior contribuição para a paz” no Oriente Médio.

O pedido de reconhecimento será analisado pelo Conselho de Segurança da ONU, onde deve enfrentar resistência dos Estados Unidos (EUA), que têm poder de veto. A medida também é contestada por Israel.

No discurso, Abbas disse que seu pleito na ONU tem como objetivo dar “legitimidade” às negociações, atualmente emperradas. Abbas citou diversas vezes um dos principais impasses dos diálogos: os assentamentos israelenses em território reivindicado pelos palestinos. Vistos como legítimos por Israel, os assentamentos não são reconhecidos pela lei internacional. “Os assentamentos são o âmago da política colonialista e a causa primária do colapso do processo de paz”, disse o presidente palestino, aplaudido diversas vezes durante sua fala.

O discurso foi transmitido para cidades da Cisjordânia, em um momento em que os palestinos vêm intensificando os esforços diplomáticos para obter o reconhecimento da ONU e o reconhecimento individual dos países (incluindo o do Brasil, concedido formalmente ainda durante o governo do ex-presidente Lula). “Nosso povo espera a resposta do mundo”, declarou Abbas, dizendo que há uma divisão entre os que acham a população palestina “dispensável” e “os que acham que está faltando um Estado no Oriente Médio”.

Veto americano

Os palestinos pedem a delimitação de um Estado a partir das fronteiras de 1967, que incluem a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, territórios ocupados por Israel, que rechaça veementemente a decisão palestina. O governo israelense alega que a reivindicação palestina, ao ser levada para a ONU, aumenta as tensões bilaterais e não resolve as disputas pendentes entre os dois lados.

Na quarta-feira (21), o presidente americano, Barack Obama, reforçou essa posição e disse que “não há atalhos” para a paz no Oriente Médio.

Por conta desse confronto, Lejeune Mirhan, secretário executivo do Comitê de Campanha pelo Estado da Palestina no Brasil, afirmou que o pedido feito nesta sexta pelo presidente da ANP representa uma importante ação contra os Estados Unidos e o sionismo.

“Poucas pessoas perceberam, mas essa luta que se trava em Nova York é uma das maiores batalhas antiimperialistas e anti-sionistas que estamos travando nos últimos 64 anos”, declarou. Para Mirhan, a oposição dos EUA não é surpresa. “Eles nunca apoiariam essa proposta. Obama recebeu diversos financiamentos de Israel. É coerente eles vetarem esse pedido”, avaliou.

Mas, segundo Paulo Sérgio Pinheiro, professor de Ciências Políticas da USP, quem levará o maior prejuízo nessa disputa diplomática será o próprio presidente dos EUA. “O grande prejuízo será do presidente Obama. Apesar de ter declarado no Egito e em outras oportunidades seu apoio ao Estado palestino, irá vetar o pedido no Conselho de Segurança”, declarou, ao analisar a posição de quase isolamento que o país adota, ao apoiar a rejeição israelense ao reconhecimento do Estado palestino.

Com informações da Agência Brasil, BBC Brasil e Opera Mundi

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