Inclusão de pessoas com deficiência ganha mais espaço em sindicatos

Entidades apostam em comunicação em braile e em libras

Ações dos sindicatos capacitam e incluem os deficientes físicos (Foto: Renato Araújo/Abr)

São Paulo – A formação e a acessibilidade para trabalhadores com deficiência vem sendo incorporada por sindicatos para além de itens da pauta de reivindicações dessas entidades. Se remuneração justa, melhores condições de trabalho e jornadas menos extenuantes já eram demandadas em negociações com as empresas, os sindicatos agora buscam ampliar a inclusão desses grupos em decisões das categorias.

O Sindicato dos Químicos de Guarulhos (Sindquímicos) capacita trabalhadores na Língua Brasileira de Sinais (Libras), para atendimento cotidiano. No último mês, foram certificados 12 alunos no curso, que está em seu segundo ano de formação. A proposta do aprendizado é prepará-los para levar o conhecimento para o trato social e lidar com os colegas com deficiência auditiva.

Uma das alunas é Noeme Oliveira do Nascimento, casada como um deficiente auditivo. “Motivada por meu esposo, fiz o curso visando a uma maior integração com a comunidade surda. E por me apaixonar pelo projeto.”

Outra formada, Graziela Evaristo Avelino, buscou o curso para se aproximar mais da irmã, alfabetizada em Libras. Segundo ela, o curso a fez entender melhor as expressões nas conversas em casa. “Estou feliz por poder diminuir esta distância. A nossa comunicação agora está sem limites na linguagem”, filosofa.

Para o presidente do Sindquímicos, Antonio Silvan Oliveira, a qualidade do atendimento às pessoas surdas tende a melhorar com as ações de inclusão. “O resultado foi bem além da expectativa. É a integração dos funcionários dos diversos departamentos que prova a inclusão tão batalhada nos postos de trabalho”, analisa o dirigente.

Os bancários da capital paulista com deficiência visual recebem, desde abril deste ano, edições em braile da Folha Bancária, informativo do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. A publicação é quinzenal e distribuída aos trabalhadores sob encomenda. A divulgação é feita na medida em que os bancários indicam os colegas com deficiência visual. Nos exemplares da tiragem segmentada, o conteúdo é impresso também em um corpo maior de letras, para pessoas com baixa visão.

De acordo com a presidenta da entidade, Juvandia Moreira, todos os setores devem garantir a acessibilidade de seus funcionários. Por um lado, a categoria tem reivindicações junto aos bancos de igualdade de oportunidades na ascensão profissional. De outro, estão as medidas internas, adotadas pela própria entidade.

Entre as ações nesse sentido, ela destaca adaptações na Quadra dos Bancários, onde são realizadas assembleias da categoria. O local recebeu elevadores para que os cadeirantes possam participar. Todo o processo tem tradução simultânea em Libras, para contemplar surdos.

Desafios para a inclusão

Para o secretário de Políticas Sociais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Expedito Solaney, a garantia de acessibilidade a pessoas com deficiência ainda depende de um longo caminho. A formação da sociedade ainda é insuficiente e a educação desde os primeiros anos escolares precisaria avançar. “Estamos lutando para que o Plano Nacional de Educação e o Ministério da Educação fortaleçam a ação, garantido inclusão, o que começa pela publicação de material didático em braile e formação em Libras”, pontua.

O dirigente conta que a CUT trabalha em conjunto com o Coletivo Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras com Deficiência para ajudar a implantar a prática com os sindicatos de diversas categorias. “Este trabalho tem desempenhado uma importante tarefa, pautando a educação inclusiva”, diz. “Quanto aos sindicatos, estamos pautando a acessibilidade fisica à todos os filiados da CUT e sedes estaduais. Eles devem fazer reformas e garantir acessibilidade como requisito mínimo.”

Para Solaney, a comunicação adaptada a trabalhadores com deficiências visual e auditiva permanece como desafio. Mesmo considerando um avanço a adoção de medidas nesse sentido, ele considera difícil vislumbrar uma data na qual a maioria das publicações sindicais sejam acessíveis. “Há entraves, porque são poucas gráficas publicam em braile pelo país afora, e as páginas na internet demandam mais de recursos”, enumera. Apesar disso, ele se diz otimista na busca pela meta de inclusão.

Apesar das articulações dos sindicatos, a formação em Libras ainda é pouco inserida se comparada à amplitude do movimento sindical, diz o secretário. “O ponto ainda não está na nossa pauta. Orientamos que nossos eventos, assembleias, conferências e congressos que tenha também a tradução para libras”, explicou. “E, como já falei, é dever do Estado e do MEC fazer esta formação.”

Na pauta

Uma cartilha da CUT, intitulada “Direito é bom: nós gostamos e lutamos por ele!”, trata da campanha pelo pleno cumprimento da lei de cotas (Lei nº 8213/91), que obriga empresas com mais de 100 funcionários a contratarem trabalhadores com deficiência. A lei completa duas décadas neste domingo (24), mas ainda é descumprida.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que aproximadamente 25 milhões de pessoas no país têm algum tipo de deficiência, das quais 10 milhões delas estão na região Sudeste. Uma das preocupações dos sindicalistas relaciona-se ao fato de que as empresas preferem contratar pessoas com deficiências “leves”, que exijam menos adaptações.

Os cadeirantes, por exemplo, necessitam mudanças maiores, estendidas até às estações de trabalho – além de alterações em corredores, banheiros, vestiários etc. A restrição serviria, segundo os sindicalistas, para não precisar se deparar com esse tipo de exigência que demanda investimento maior.

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