Disputa pelo mínimo produz novo ‘racha’ entre CUT e Força

UGT, CTB e Força tratam rebaixamento da reivindicação do mínimo de R$ 580 para R$ 560 como consenso. CUT diz que discorda da redução

São Paulo – A negociação com o governo federal sobre o reajuste do salário mínimo para 2011 provocou um novo “racha” entre as centrais sindicais. O Projeto de Lei 382/2011, de autoria do Executivo, fixa o mínimo deste ano em R$ 545 e estabelece uma política de reajustes até 2015. Os sindicalistas inicialmente defendiam o valor de R$ 580, mas parte deles cedeu e passou a propor R$ 560, com uma antecipação do reajuste prevista para 2012.

Enquanto a CUT diz manter a reivindicação de R$ 580 para o mínimo, as demais centrais tentaram barganhar R$ 560. A Força Sindical adotou a postura ao perceber a dificuldade de demover a base aliada do governo. A União Geral dos Trabalhadores (UGT) também defendeu o valor menor, já que o vice-presidente da entidade, o deputado Roberto Santiago (PV-SP) apresentou emenda ao projeto do Execitivo.

“Na minha avaliação, o governo vai acabar ganhando a votação. Pela situação, a proposta do governo vai passar sim”, afirma o secretário-geral da CUT, Quintino Severo. “Mas a CUT ainda mantém a defesa dos R$ 580”, completa.

O presidente da CUT, Artur Henrique, manifestou posição mais detalhada em seu blogue. “A imprensa está dizendo que as centrais sindicais, indistintamente, estariam defendendo R$ 560. Nada disso. Essa iniciativa de rebaixar o valor defendido inicialmente pelo movimento sindical (R$ 580), antes que o governo acenasse com qualquer possibilidade de negociar os R$ 545 em que fincou o pé, foi da Força”, acusou.

Ele alfineta os colegas sindicalistas ao avaliar que o rebaixamento do valor da revindicação durante um processo de negociação “não é das melhores estratégias”. “Quando você está negociando junto com outras entidades, é preciso respeito ao consenso”, lamentou. “Se a intenção da Força foi, novamente, ganhar espaço em jornais, funcionou. Mas aparecer em jornais não é tudo”, criticou.

Na terça-feira (14), Roberto Santiago defendia a medida como uma opção. “O salário de R$ 560 é uma alternativa que dá espaço para os trabalhadores, que querem, sim, preservar o acordo em torno do salário mínimo, mas que precisam também recuperar parte dos ganhos que a economia brasileira acumulou em 2010”, afirmou, em nota.

O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes, afirmou que o valor de R$ 560 foi acertado entre todas as centrais, sem exceção, com uma antecipação de 3% em relação ao que seria pago em 2012. “Foi uma proposta alternativa de todas as centrais.”

Ricardo Patah, presidente da UGT, vai além. “Roberto Santiago consultou todas as centrais, todas apoiaram a alternativa de R$ 560”, afirma. “Diante do rolo compresssor do governo e do interesse do PMDB, que só vai ter contemplado com cargos do segundo escalão se aprovar mínimo menor, avaliamos que seria muito difícil chegar nos R$ 560. Nos R$ 580, seria impossível”, avalia.

Questionado sobre o posicionamento da CUT, Patah preferiu ponderar que “todas as centrais estão unidas e conversando bastante”. Ele ainda critica o governo Dilma, que está, em seu entendimento, “optando pelo mercado” ao não oferecer aos trabalhadores o mesmo tratamento dispendido a bancos e indústrias automotivas e da linha branca em 2009, durante a crise econômica.

União na separação

Desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, as centrais passaram a adotar posturas e a promover campanhas conjuntamente. Apesar de diferenças históricas, especialmente entre as maiores centrais, CUT e a Força Sindical, medidas como a criação do Fórum Nacional do Trabalho (FNT) – vinculado à Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego – e a articulação da regulamentação das centrais produziram uma união entre as entidades.

Campanhas por valorização do salário mínimo, correção da tabela do Imposto de Renda, debates sobre a regulamentação da terceirização no país, entre outros temas, tiveram um grau considerável de consenso entre as centrais. No entanto, temas como o fim do imposto sindical e da unicidade causam divergências aparentemente insolúveis.

A poucas horas da votação do reajuste, os sindicalistas vislumbram que o governo deve mesmo fazer valer sua maioria no plenário da Câmara. Tanto o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, presidente da Força, como dirigentes da CUT já dão a questão como perdida. 

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