noite longa

Aliados aconselham Temer a renunciar. Votações de reformas serão suspensas

Capital federal vive noite de manifestações e reuniões. Situação do presidente é considerada 'gravíssima'. Ambiente de desânimo domina o governo. Pedido de impeachment já foi protocolado

arquivo pessoal / twitter

Esplanada dos Ministérios e a praça em frente ao Palácio do Planalto são alvos de pessoas que chegam a todo momento: “Fora Temer”

Brasília – A divulgação da notícia de gravações de conversas nas quais o presidente Michel Temer discute com o empresário Joesley Batista o pagamento de propina para compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na noite desta quarta-feira (17), tumultua a capital do país, que vive uma noite de movimentação. A Esplanada dos Ministérios e a praça em frente ao Palácio do Planalto recebem pessoas que chegam a todo momento portando bandeiras do Brasil, aos gritos de “Fora, Temer!” e pedidos de renúncia do presidente. Embora várias reuniões ainda não tenham terminado duas situações são dadas como certas. Primeiro, que a agenda de votação das reformas será suspensa. A segunda, confirmada nos bastidores por políticos do governo, é que caso não consiga reverter o quadro rapidamente, o presidente renuncie ao cargo.

“O Congresso não pode ficar calado. Estamos num ambiente de fim, um sentimento de que o governo acabou. A solução tem que ser ou a renúncia, ou um impeachment ou diretas já”, disse o líder da oposição na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE). O pedido de impeachment de Temer foi protocolado pouco tempo depois da divulgação da gravação pelo deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), na Câmara, enquanto a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou o teor da gravação, que foi feita pelo dono da empresa JBS, Wesley Batista, e apresentada em delação premiada.

No Supremo Tribunal Federal (STF) ainda há informações de que há magistrados reunidos para discutir o caso, mas um pronunciamento oficial da suprema corte ou de algum dos ministros só será feito nesta quinta-feira (18), segundo informações da secretaria de Comunicação.

Já em relação a Temer, por volta das 21h30 o Palácio do Planalto divulgou nota oficial afirmando que o presidente “jamais solicitou” pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. O documento destaca, ainda, que Temer “não participou nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar”. Apesar das declarações, o presidente confirma, neste comunicado, que recebeu, sim, Joesley Batista em março passado, no Palácio do Jaburu.

Michel Temer permaneceu dentro do Palácio do Planalto reunido com vários ministros da sua equipe, líderes da base aliada, deputados e senadores e até alguns governadores para discutir a melhor saída da crise política até por volta das 22h30. Ele saiu para o Palácio do Jaburu, onde reside, e continua a reunião lá, ao lado de políticos mais próximos.

‘Tudo perdido’

Entre os deputados e senadores de todos os partidos, o ambiente é de nervosismo. Todos, quando abordados por jornalistas e questionados – seja em reservado ou publicamente – classificam a situação como “gravíssima”.

O líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), chegou a pedir aos repórteres que evitem precipitações neste momento e evitou falar em adiamentos na votação das reformas, mas não conseguiu convencer.

As contas feitas por parlamentares da oposição e da base do governo são de que, no caso da reforma da Previdência, o Planalto contava, na manhã de hoje, com 225 votos favoráveis e 123 indecisos. Com a presença de governadores e prefeitos, que vieram a Brasília para participar de um seminário e acompanhar a votação da proposta que refinancia dívidas dos estados, a intenção do governo era conseguir o convencimento de mais 123 parlamentares – de modo a garantir os votos que faltam. Com a notícia da gravação, as articulações neste sentido foram interrompidas. “Está tudo perdido. Não há como falar em votação nenhuma neste momento”, disse um senador peemedebista.

Impeachment, Diretas ou STF?

No Congresso, parlamentares da oposição discutem a posição a ser adotada daqui por diante no sentido de pressionar pela saída de Temer. Lindbergh Farias (PT-RJ) defende pressão para acolhimento, o quanto antes, pelo presidente da Câmara ou do Senado, do pedido de impeachment. Mas um outro movimento dos oposicionistas trabalha para que a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara, vote com urgência a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 227/16 que trata de eleições diretas para a Presidência da República.

No final da noite, outra possibilidade discutida foi de o tema ser decidido pelo Judiciário, por meio de um pedido a ser feito junto ao STF para abertura de processo contra Michel Temer por obstrução de Justiça. Caso o colegiado da mais alta corte do país decida pela abertura do processo, o presidente terá de deixar o cargo.