Lixo do litoral paulista é 136% mais caro que a média do país

Onze municípios do litoral destinam para fora de seus territórios todo o lixo que produzem

São Paulo – O cidadão que vive no litoral paulista paga por ano 136% a mais que a média per capita anual registrada no país para despejar o lixo em aterro sanitário. É o que revela a pesquisa “Litoral Sustentável”, feita pelo Instituto Pólis em parceria com a Petrobrás, em 13 municípios da Baixada Santista e Litoral Norte. 

A pesquisa revelou que o morador do litoral, da faixa entre Peruíbe e Ubatuba, gera um quilo de lixo por dia. A média nacional é de 1,1 quilo. Na alta temporada, a quantidade de resíduos cresce 54% na região. A quantidade de resíduos úmidos está acima da média do país. Nos 13 municípios pesquisados, o índice é de 65%, podendo chegar até 70%. A média nacional para este tipo de resíduo é de 60%.

Na opinião da coordenadora de ambiente urbana do Instituto Pólis, Elisabeth Grimberg, este é um dado importante. “Essa parcela dos resíduos é atribuição do poder público municipal. Isso gera uma discussão muito interessante. Todo esse resíduo úmido não precisa ir para aterro sanitário, não precisa se gastar tudo que se gasta”, disse em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Onze municípios do litoral destinam para fora de seu território o lixo que produzem, e despejam em aterros que ficam em Santos, Mauá, Santa Isabel e Tremembé, estes últimos no Vale do Paraíba. “Isso soma R$330 milhões ao ano de custos. O custo médio no país da relação habitante/ano é de R$72. O custo médio no litoral, na mesma relação, é R$170. Isso mostra o quanto é caro gerir os resíduos no padrão que existe no litoral.”

O alto custo da gestão do lixo no litoral pode ser explicado pelas longas distâncias que os resíduos percorrem até chegarem aos aterros de outros municípios. “Em média, o resíduo percorre 100 Km para chegar nestes aterros”, explica Elisabeth. Ela aponta também mais dois problemas, de impactos ambientais: a emissão de gás carbônico e o risco de tombamento dos caminhões nas estradas.

“A quantidade de caminhões que circulam transportando resíduos para estes municípios é enorme, o que causa custos e impactos no tráfico bastante preocupantes.” Ela ressalta que é preciso aprofundar a discussão sobre a falta de reaproveitamento de resíduos úmidos para produzir adubo natural e dos resíduos secos – como papel, plástico, vidro e alumínio – para o aproveitamento na cadeia da reciclagem.

Outra questão apontada pela pesquisa do Instituto Pólis no litoral norte e baixada santista é a dependência das prefeituras em relação às empresas que operam os aterros sanitários. Há o risco de surgimento de eventuais impedimentos para o depósito dos resíduos. “Isso já aconteceu e colocou as prefeituras em situações bastante críticas. O aterro informa a prefeitura que não poderá mais receber o lixo e aí fica uma situação caótica”, diz Elisabeth.

Cinco dos 13 municípios pesquisados já elaboraram seus Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e três estão em elaboração. O plano é uma exigência da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Parte da coleta seletiva de resíduos sólidos é responsabilidade do setor empresarial, e dos resíduos úmidos, da prefeitura. Sendo assim, a quantidade de lixo que sobra para ser levada aos aterros não é grande. “65% , em média, dos resíduos, não subiria mais a serra, seria tratada e reutilizada nas próprias cidades. Isso é possível e viável.”

A coordenadora do Instituto Pólis ressalta que a possibilidade da construção de aterros sanitários no litoral está sendo estudada. “Estamos fazendo a discussão para construir um aterro no litoral norte e um aterro no litoral sul”, finaliza.

Os municípios incluídos na pesquisa são: Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião, Ilhabela, Bertioga, Guarujá, Santos, São Vicente, Cubatão, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe. 

Ouça aqui a reportagem de Marilu Cabañas. 

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